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São Paulo, sábado, 03 de maio de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

O ciclo político encolheu

BRASÍLIA - Lula falou: ""No ano que vem, tem eleição, e todo mundo sabe que em ano eleitoral tudo fica muito mais difícil de ser votado".
Está certo o presidente da República. Consolidou-se no país o encolhimento do ciclo político para o Congresso Nacional. Uma eleição a cada dois anos -nada contra eleições, muito pelo contrário- impõe um ritmo perverso. Só o primeiro ano de cada legislatura é, de fato, útil para aprovar leis controversas.
Quando deputados e senadores tomam posse no meio de fevereiro -o que já ocorre quase dois meses depois que o novo presidente da República sentou-se em sua cadeira-, há uma certa disposição geral para aprovar ""tudo aquilo que ficou para trás".
Foi assim quando Fernando Collor assumiu. O fenômeno se repetiu com Fernando Henrique Cardoso. Agora, chegou a vez de Lula.
No segundo ano de seus mandatos, deputados e senadores se dedicam a dar apoio a seus aliados prediletos nos Estados. A eleição de prefeitos mobiliza todo o Congresso. É o apoio nas cidades que garantirá, dois anos depois, a reeleição do congressista. Não há como fugir dessa lógica. Por essa razão, a Câmara e o Senado passam parte do tempo às moscas.
Quando chega o terceiro ano pós-posse, depois do Carnaval, o mandato presidencial passa a ser referido de trás para a frente, de maneira quase derrogatória. "Faltam 22 meses para acabar o governo Lula", dirão. Essa contagem regressiva é diretamente proporcional à perda de controle do Planalto sobre o Congresso.
Finalmente, no quarto ano de cada legislatura, começa tudo de novo. Em março e abril definem-se as chapas que vão concorrer ao principal cargo do país. A partir das convenções partidárias, candidatos na rua, o Congresso entra em um estado de catatonia consentida.
Eis aí outro aspecto da política brasileira a ser aperfeiçoado. Não há democracia estável no planeta que se dê ao luxo de ter um Congresso Nacional trabalhando para valer apenas um ano em cada quatro.



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