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FERNANDO RODRIGUES
O ciclo político encolheu
BRASÍLIA - Lula falou: ""No ano que vem, tem eleição, e todo mundo sabe
que em ano eleitoral tudo fica muito
mais difícil de ser votado".
Está certo o presidente da República. Consolidou-se no país o encolhimento do ciclo político para o Congresso Nacional. Uma eleição a cada
dois anos -nada contra eleições,
muito pelo contrário- impõe um
ritmo perverso. Só o primeiro ano de
cada legislatura é, de fato, útil para
aprovar leis controversas.
Quando deputados e senadores tomam posse no meio de fevereiro -o
que já ocorre quase dois meses depois
que o novo presidente da República
sentou-se em sua cadeira-, há uma
certa disposição geral para aprovar
""tudo aquilo que ficou para trás".
Foi assim quando Fernando Collor
assumiu. O fenômeno se repetiu com
Fernando Henrique Cardoso. Agora,
chegou a vez de Lula.
No segundo ano de seus mandatos,
deputados e senadores se dedicam a
dar apoio a seus aliados prediletos
nos Estados. A eleição de prefeitos
mobiliza todo o Congresso. É o apoio
nas cidades que garantirá, dois anos
depois, a reeleição do congressista.
Não há como fugir dessa lógica. Por
essa razão, a Câmara e o Senado passam parte do tempo às moscas.
Quando chega o terceiro ano pós-posse, depois do Carnaval, o mandato presidencial passa a ser referido de
trás para a frente, de maneira quase
derrogatória. "Faltam 22 meses para
acabar o governo Lula", dirão. Essa
contagem regressiva é diretamente
proporcional à perda de controle do
Planalto sobre o Congresso.
Finalmente, no quarto ano de cada
legislatura, começa tudo de novo. Em
março e abril definem-se as chapas
que vão concorrer ao principal cargo
do país. A partir das convenções partidárias, candidatos na rua, o Congresso entra em um estado de catatonia consentida.
Eis aí outro aspecto da política brasileira a ser aperfeiçoado. Não há democracia estável no planeta que se dê
ao luxo de ter um Congresso Nacional trabalhando para valer apenas
um ano em cada quatro.
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