|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTONIO DELFIM NETTO
Entender o PIB
HÁ MUITOS anos sabemos
que o "homem comum",
com o qual tem de lidar a
política econômica, é um ser gregário, altruísta, mais emocional e menos racional do que o frio e calculista "homem econômico". Este é
uma conveniente máquina individualista e egoísta, que maximiza
seus benefícios e minimiza seus sacrifícios, com a qual a profissão às
vezes se diverte na tentativa de entender como funciona o sistema
econômico.
Sendo assim, a reação de cada
agente econômico às novas informações depende não apenas do seu
entendimento mas também do entendimento e da reação dos outros.
Cria-se uma espécie de rede informal e invisível que "coordena" a
resposta coletiva. É por isso que
existem "ondas" de "otimismo" ou
"pessimismo" e o comportamento
da sociedade ou é de "rebanho"
(quando há certeza sobre o futuro)
ou de "manada" (quando o nível de
incerteza cresce). Isso mostra a importância de prevenir os agentes
econômicos sobre o significado
real da informação, de forma que
possam sempre relativizá-la dentro do contexto e evitar a resposta
exagerada. Para dar um exemplo,
tomemos as possíveis informações
sobre o comportamento do nosso
PIB em 2009.
Costuma-se medir a evolução do
PIB comparando crescimento
anual entre o mesmo trimestre de
dois anos consecutivos, o que evita
a influência das variações estacionais. Entre o terceiro trimestre de
2007 e o de 2008, o crescimento
anual do PIB foi de 6,8%. Na comparação entre os quartos trimestres, ele caiu dramaticamente para
1,3%. O crescimento anual 2008/
07 ainda foi de 5,1%. A crise que importamos em setembro de 2008
começa a dar sinais de ceder no início do terceiro trimestre de 2009.
As notícias que teremos no futuro
sobre o PIB serão dramáticas, mas
estarão refletindo apenas o que já
aconteceu.
Suponhamos (não é uma "previsão", mas uma simples hipótese):
a) que o PIB do 1º trimestre de
2009 tenha sido 2% inferior ao do
4º trimestre de 2008; b) que no segundo trimestre tenha se mantido
no mesmo nível e c) que a partir do
3º trimestre ele cresça, sobre o trimestre anterior, 1% até o fim de
2010. O que revelariam as estatísticas do IBGE? Os números seguintes do crescimento anual de trimeste/trimestre: 1º trimestre
2009/08, -2,4%; 2º trimestre,
-3,9%; 3º trimestre, -4,6% e 4º trimestre, zero.
O crescimento anual 2009/08
seria de -2,7%. A boa notícia é que
em 2010 ele seria de 3,8%. O ponto
importante a destacar é que, quando a dramática "nova" informação
do 3º trimestre (queda de 4,6%) for
feita, em janeiro de 2010 pelo IBGE, o PIB brasileiro já estaria crescendo 3%!
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Quatorze minutos de eternidade Próximo Texto: Frases
Índice
|