São Paulo, Quinta-feira, 03 de Junho de 1999
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CAMPO MINADO

Os 38 países da União Européia e da América Latina-Caribe programaram para o fim do mês, no Rio, uma reunião de cúpula destinada a fortalecer os laços entre as duas regiões.
Uma nobre intenção, que, no entanto, pode não ir além de uma "photo opportunity" para os governantes se alguns países europeus, com a França à frente deles, insistirem em negar-se a negociar produtos agrícolas -exatamente a área em que a América Latina e, em especial, o Mercosul são mais competitivos.
Como se sabe, os europeus subsidiam pesadamente sua produção agrícola. Do orçamento de US$ 100 bilhões da UE, a metade exatamente vai para subsídios ou outros tipos de ajuda aos produtores agrícolas.
Enquanto mantêm essa barreira, os países europeus (bem como as demais nações industrializadas, vale dizer) fazem um discurso liberalizante e aberturista. Cria-se a clássica situação do refrão "faça o que digo, mas não faça o que eu faço".
Cria-se, igualmente, para o Brasil e para o Mercosul uma formidável assimetria: na década de 90, seguindo uma tendência internacional, os países do Sul abriram suas economias e passaram a importar muito mais bens industriais e serviços.
Como não houve a devida contrapartida em bens como os agrícolas, em que têm vantagens comparativas, tais países passaram a acumular déficits comerciais com o mundo rico, embora para esse fenômeno tenham contribuído poderosamente as políticas cambiais brasileira e argentina.
Agora que se faz uma reunião com o objetivo específico de fortalecer os laços com a Europa, nada mais lógico que exigir a contrapartida, conhecendo as dificuldades de obtê-la.
A abertura da economia não pode ser tratada como mera questão ideológica. É uma decisão de política econômica que deve estar amparada pela relação entre custo e benefício.


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