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CAMPO MINADO
Os 38 países da União Européia e da
América Latina-Caribe programaram
para o fim do mês, no Rio, uma reunião de cúpula destinada a fortalecer
os laços entre as duas regiões.
Uma nobre intenção, que, no entanto, pode não ir além de uma "photo
opportunity" para os governantes se
alguns países europeus, com a França à frente deles, insistirem em negar-se a negociar produtos agrícolas
-exatamente a área em que a América Latina e, em especial, o Mercosul
são mais competitivos.
Como se sabe, os europeus subsidiam pesadamente sua produção
agrícola. Do orçamento de US$ 100
bilhões da UE, a metade exatamente
vai para subsídios ou outros tipos de
ajuda aos produtores agrícolas.
Enquanto mantêm essa barreira, os
países europeus (bem como as demais nações industrializadas, vale
dizer) fazem um discurso liberalizante e aberturista. Cria-se a clássica
situação do refrão "faça o que digo,
mas não faça o que eu faço".
Cria-se, igualmente, para o Brasil e
para o Mercosul uma formidável assimetria: na década de 90, seguindo
uma tendência internacional, os países do Sul abriram suas economias e
passaram a importar muito mais
bens industriais e serviços.
Como não houve a devida contrapartida em bens como os agrícolas,
em que têm vantagens comparativas,
tais países passaram a acumular déficits comerciais com o mundo rico,
embora para esse fenômeno tenham
contribuído poderosamente as políticas cambiais brasileira e argentina.
Agora que se faz uma reunião com o
objetivo específico de fortalecer os
laços com a Europa, nada mais lógico que exigir a contrapartida, conhecendo as dificuldades de obtê-la.
A abertura da economia não pode
ser tratada como mera questão ideológica. É uma decisão de política econômica que deve estar amparada pela
relação entre custo e benefício.
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