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O neoterrorismo
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Nas entranhas do governo, e com a colaboração de parte
da mídia, prepara-se uma agressão à
liberdade. Não à liberdade de imprensa em si, mas àquela que no hino republicano pedimos que abra as asas
sobre nós.
Com o escândalo dos grampos, pretende-se introduzir no Código Penal
um dispositivo que impedirá a divulgação de qualquer coisa sem a anuência prévia do divulgado.
Nem na ditadura imaginou-se isso.
Os censores avisavam o que podia e o
que não podia ser divulgado. Sobrava
alguma coisa para ser dita e, principalmente, insinuada.
Com a idéia nascida na equipe de
FHC, será necessária uma autorização
prévia e formal da autoridade ou da
pessoa comum que tiver feito, dito ou
sofrido qualquer ato ou fato que interesse a sociedade.
A turma que foi apanhada pelo
grampo está chiando porque a Folha
divulgou conversas grampeadas ilicitamente (não foi o jornal que cometeu
o ilícito). Dou um exemplo: durante o
regime militar, um grupo planejou a
explosão do gasômetro no início da
avenida Brasil, aqui no Rio.
Morreriam centenas de pessoas e o
atentado seria atribuído aos subversivos da esquerda. Pouco depois, houve
a bomba do Riocentro, que teve o mesmo esquema e a mesma intenção.
Suponhamos que um bando de traficantes ou de políticos contrariados
pense em um atentado igual. E que alguém, por via ilícita (escuta telefônica, por exemplo), descubra os planos
assassinos. Para denunciar o crime,
deverá pedir autorização por escrito
aos terroristas?
O setor financeiro do atual governo
exerce um terrorismo sem sangue, mas
criando vítimas que somos todos nós.
Nosso dinheiro -o meu, o seu e o nosso, como disse o presidente do Banco
Central- está pagando o que não devemos.
A lei não retroage, mas vale a pergunta: PC Farias teria de dar autorização para que a imprensa revelasse o
esquema montado para a sustentação
do governo Collor?
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