São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002

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CRISE EXTERNA

O dia de ontem trouxe resultados contrastantes nos vários segmentos do mercado financeiro envolvendo o Brasil. Internamente, os números até foram positivos: o dólar fechou em ligeira baixa, a exemplo dos juros no mercado futuro. A Bovespa teve queda bem pequena. Mas no exterior o dia foi muito negativo: o risco Brasil subiu mais de 3%, e a cotação do principal título da dívida externa brasileira, o C-Bond, caiu quase 5%.
O motivo da divergência parece ser o mal-estar nos países ricos. A desvalorização abrupta do dólar ante o euro e o iene estimula uma fuga, para a Europa e o Japão, de recursos investidos nos EUA. Já a desconfiança nas demonstrações contábeis das corporações continua a aumentar, o que enfraquece as Bolsas de Valores.
Ontem o Dow Jones chegou a seu nível mais baixo desde outubro (quando ainda se vivia o impacto imediato do atentado de 11 de setembro). Já o Nasdaq chegou ao nível mais baixo desde 1997. Em situações como essa é típico que, para cobrir as perdas, os investidores vendam ativos de maior risco. Dentre estes, os títulos da dívida brasileira estão entre os que têm maior liquidez -e por isso sofrem forte pressão de venda, como se viu ontem.
O mau humor internacional está retardando o ansiado alívio no mercado financeiro doméstico. A cotação do dólar ontem perdeu ímpeto de alta, mas isso é insuficiente para caracterizar a "trégua" necessária para reverter a piora das expectativas.
O que propiciaria essa "trégua" seria um recuo do dólar para R$ 2,70 ou menos. As autoridades já tomaram várias iniciativas com esse objetivo. Mas a efetividade das medidas está prejudicada, até o momento, pelo quadro internacional adverso.
Observa-se, assim, que o foco maior da instabilidade se desloca de questões domésticas (como a incerteza eleitoral ou os desencontros na rolagem da dívida pública) para questões externas. O que é preocupante, seja porque tais questões escapam ao controle das nossas autoridades, seja porque a fragilidade das nossas contas externas potencializa as más notícias que vêm de fora.


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