São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002

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VOTO ANTECIPADO

As pressões contra o presidente da Argentina, Eduardo Duhalde, que já eram grandes e crescentes, tornaram-se extremadas depois da repressão policial que culminou na morte de dois manifestantes, na semana passada. Até o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Horst Köhler, questionou publicamente a capacidade de liderança política de Duhalde. Diante desse quadro, a Casa Rosada decidiu antecipar as eleições presidenciais de 2003 de setembro para março.
Previsões, em se tratando da crise argentina, na maioria das vezes se têm mostrado equivocadas. A mesma dificuldade se antepõe a respeito do significado da antecipação das eleições. Com o gesto, Duhalde pode aplacar um pouco os exaltados ânimos dos cidadãos e usufruir de alguma margem de manobra para seguir conduzindo a transição do modelo econômico. Mas também é possível aventar uma segunda hipótese: a decisão de fazer mais cedo as eleições poderá ser entendida pela população como um sinal de aumento da fragilidade de Duhalde, contribuindo inclusive para um novo processo de pressão a exigir, por exemplo, a renúncia imediata do presidente.
O "timing" da sucessão, bem como as suas regras, será decisivo para saber se ocorreu ou não, na Argentina, um processo de renovação de lideranças políticas. Os partidos tradicionais -o Peronista e a União Cívica Radical-, profundamente desgastados, e a carcomida estrutura de mando baseada nos governadores de Província serão, através do voto, substituídos por forças novas?
Mais uma vez, o terreno pantanoso sobre o qual se move a política argentina impede conclusões. Houve surtos de organização alternativa aos partidos tradicionais na Argentina -o mais "sui generis" deles ligado a associações de moradores. Mas não se sabe se, até o início do processo de sucessão, haverá maturação desse processo a ponto de oferecer aos eleitores a opção para um novo pacto nacional sob bases mais promissoras.


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