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CARLOS HEITOR CONY
Ainda a pirataria
RIO DE JANEIRO - Comentei ontem a pirataria industrial no mercado da
produção artística e cultural. Falei
basicamente sobre o livro, que é meu
ofício há mais de 40 anos, discordando do recente projeto aprovado no
Congresso e que está dependendo
apenas da sanção presidencial.
É evidente que é necessária uma
providência para acabar com a pirataria, sobretudo nos discos, CDs, vídeos. Até mesmo no caso de alguns livros que podem ser pirateados, embora seja impossível fazer os autores
assinarem cada exemplar e a simples
numeração não resolva o problema.
Há que ser criada uma comissão
abrangente, com artistas, produtores,
editores, livreiros, gravadoras e autores para debaterem o assunto. Do jeito que está, o projeto é falho, até mesmo absurdo. Tornará mais complexa
e problemática toda a produção artística e cultural do Brasil.
Repito que falo apenas sobre o produto livro. Mas, no caso dos discos, fitas e vídeos, a pirataria é mais fácil e
lucrativa, em detrimento dos autores
e intérpretes. Basta dar um exemplo:
Moreira da Silva, aos 90 anos, era
obrigado a dar shows para conseguir
o pão que sua vasta discografia e videografia não conseguiam garantir.
O projeto existente, apesar de sua
boa intenção, pecou gravemente porque não resultou de um trabalho de
equipe em que estivessem envolvidos
todos os interessados. Pareceu fácil
tornar obrigatórias a numeração e a
assinatura dos autores e intérpretes,
sem atentar para o custo adicional
da produção e a dificuldade material
de realizá-la.
A tecnologia, que mandou o homem à Lua e criou celulares e robôs,
mais cedo ou mais tarde descobrirá
um sistema de segurança capaz de
impedir a pirataria, mas não de forma artesanal e onerosa como a que
foi proposta.
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