São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Ainda a pirataria

RIO DE JANEIRO - Comentei ontem a pirataria industrial no mercado da produção artística e cultural. Falei basicamente sobre o livro, que é meu ofício há mais de 40 anos, discordando do recente projeto aprovado no Congresso e que está dependendo apenas da sanção presidencial.
É evidente que é necessária uma providência para acabar com a pirataria, sobretudo nos discos, CDs, vídeos. Até mesmo no caso de alguns livros que podem ser pirateados, embora seja impossível fazer os autores assinarem cada exemplar e a simples numeração não resolva o problema.
Há que ser criada uma comissão abrangente, com artistas, produtores, editores, livreiros, gravadoras e autores para debaterem o assunto. Do jeito que está, o projeto é falho, até mesmo absurdo. Tornará mais complexa e problemática toda a produção artística e cultural do Brasil.
Repito que falo apenas sobre o produto livro. Mas, no caso dos discos, fitas e vídeos, a pirataria é mais fácil e lucrativa, em detrimento dos autores e intérpretes. Basta dar um exemplo: Moreira da Silva, aos 90 anos, era obrigado a dar shows para conseguir o pão que sua vasta discografia e videografia não conseguiam garantir.
O projeto existente, apesar de sua boa intenção, pecou gravemente porque não resultou de um trabalho de equipe em que estivessem envolvidos todos os interessados. Pareceu fácil tornar obrigatórias a numeração e a assinatura dos autores e intérpretes, sem atentar para o custo adicional da produção e a dificuldade material de realizá-la.
A tecnologia, que mandou o homem à Lua e criou celulares e robôs, mais cedo ou mais tarde descobrirá um sistema de segurança capaz de impedir a pirataria, mas não de forma artesanal e onerosa como a que foi proposta.


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