São Paulo, sábado, 03 de julho de 2004

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APAGÃO SANITÁRIO

Há três anos, a opinião pública brasileira foi despertada para uma nova realidade do comércio global. A suspensão de importações de carne brasileira pelo Canadá sob a inverossímil suspeita de contaminação do rebanho pelo famigerado mal da vaca louca gerou polêmica e consternação. Depois de uma intensa disputa entre os dois países em torno de subsídios às exportações de aviões, envolvendo as empresas Bombardier e Embraer, ninguém no Brasil teve dúvida de que o bloqueio à carne determinado pelo Canadá não passava de um pretexto para procurar punir um adversário comercial.
O caso serviu para ampliar a percepção da sociedade acerca do novo cenário mundial. Os cortes tarifários promovidos ao longo do pós-Guerra, num quadro de aprofundamento da globalização econômica e de incremento do comércio, vieram a reservar papel de relevo para as chamadas barreiras fitossanitárias. Notadamente a partir da década de 1990, critérios relativos a higiene, saúde, riscos de contaminação etc. passaram a ser crescentemente aperfeiçoados e utilizados como armas comerciais.
Tem sido freqüente em meio a disputas comerciais, como a recente rejeição da soja brasileira pela China ou a suspensão da compra de carne por parte da Argentina, que se manifestem opiniões a respeito do caráter "injusto" dessa ou daquela decisão contrária aos produtores brasileiros.
É ingenuidade acreditar que noções como justiça -ou ética- norteiem o comércio mundial. O melhor a ser feito é tratar de não oferecer pretextos para suspeitas e bloqueios. Já há no Brasil considerável consciência a respeito do assunto, tanto entre produtores quanto nas esferas públicas. Ainda falta, no entanto, o principal: os meios para que o controle sanitário possa ser exercido com o devido rigor.
Eis uma tarefa que não irá prosperar sem a liderança do governo federal. Investir na vigilância sanitária é uma tarefa inadiável. Um desastre no Brasil, nos moldes do causado pelo mal da vaca louca na Europa, equivaleria a uma espécie de "apagão" numa área -a das exportações- absolutamente estratégica para o país.


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