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APAGÃO SANITÁRIO
Há três anos, a opinião pública brasileira foi despertada para uma nova realidade do comércio
global. A suspensão de importações
de carne brasileira pelo Canadá sob a
inverossímil suspeita de contaminação do rebanho pelo famigerado mal
da vaca louca gerou polêmica e consternação. Depois de uma intensa disputa entre os dois países em torno de
subsídios às exportações de aviões,
envolvendo as empresas Bombardier
e Embraer, ninguém no Brasil teve
dúvida de que o bloqueio à carne determinado pelo Canadá não passava
de um pretexto para procurar punir
um adversário comercial.
O caso serviu para ampliar a percepção da sociedade acerca do novo
cenário mundial. Os cortes tarifários
promovidos ao longo do pós-Guerra, num quadro de aprofundamento
da globalização econômica e de incremento do comércio, vieram a reservar papel de relevo para as chamadas barreiras fitossanitárias. Notadamente a partir da década de 1990, critérios relativos a higiene, saúde, riscos de contaminação etc. passaram a
ser crescentemente aperfeiçoados e
utilizados como armas comerciais.
Tem sido freqüente em meio a disputas comerciais, como a recente rejeição da soja brasileira pela China ou
a suspensão da compra de carne por
parte da Argentina, que se manifestem opiniões a respeito do caráter
"injusto" dessa ou daquela decisão
contrária aos produtores brasileiros.
É ingenuidade acreditar que noções como justiça -ou ética- norteiem o comércio mundial. O melhor a ser feito é tratar de não oferecer
pretextos para suspeitas e bloqueios.
Já há no Brasil considerável consciência a respeito do assunto, tanto
entre produtores quanto nas esferas
públicas. Ainda falta, no entanto, o
principal: os meios para que o controle sanitário possa ser exercido
com o devido rigor.
Eis uma tarefa que não irá prosperar sem a liderança do governo federal. Investir na vigilância sanitária é
uma tarefa inadiável. Um desastre no
Brasil, nos moldes do causado pelo
mal da vaca louca na Europa, equivaleria a uma espécie de "apagão" numa área -a das exportações- absolutamente estratégica para o país.
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