São Paulo, segunda-feira, 03 de julho de 2006

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Nacionalismo de resultados

SÃO PAULO - Depois da ressaca, há razões para alívio. Não teremos mais que agüentar as propagandas de cerveja, as piadas infames contra os argentinos, as crônicas do Bial no "Jornal Nacional", as reportagens carregadas de maquiagem de Fátima Bernardes, os flashes ao vivo com os tambores do Olodum.
Está desfeito o verdadeiro quadrado mágico entre a seleção, a Rede Globo, a propaganda e o nacionalismo de resultados.
Quem gosta de futebol tem mais razões para respirar. Os argentinos, sim, devem lamentar a desclassificação: tinham um belo time, chegaram a exibir o fino da bola. O Brasil, desde o início, foi seqüestrado por um agrupamento de vedetes já velhuscas e fora de forma, lobistas de si mesmos, em busca de feitos individuais e outros negócios. A Globo tratou de incensá-los.
Ronaldo chegou à Copa pronto para mostrar a magia do sumô brasileiro. E Roberto Carlos sobrevive há anos do seu dom de iludir: finge que ataca, finge que defende. Marcava o nada, antes mesmo de ajeitar as meias no lance fatal.
Terminado o jogo, um atônito Galvão Bueno dizia para si mesmo: "É apenas um jogo, futebol não é tudo na vida". Logo a seguir, ainda atolado em bugigangas, Faustão emendava desorientado: "As eleições vêm aí". A idiotia nacional, amplificada por doses inéditas de jornalismo Big Brother, ficou nua no instante de seu desmanche.
Algo dessa miséria nacionalisteira ainda tentará sobreviver agarrada à figura de Felipão, o vingador. Parreira é muito teórico, muito melancólico (a versão distante e triste de Ronald Golias). O brasileiro se identifica mais com o paternalismo de Scolari, ao mesmo tempo autoritário e sentimental. Pouco importa (ou tanto melhor) que sua filosofia tosca embuta o elogio da botinada. Torcerei contra o êxito deste sofrível time de guerreiros lusitanos. Torcerei pelos simpáticos velhinhos da França. Torcerei em silêncio pela consagração final deste gênio da bola -Zinedine Zidane.


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