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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Nacionalismo de resultados
SÃO PAULO - Depois da ressaca,
há razões para alívio. Não teremos
mais que agüentar as propagandas
de cerveja, as piadas infames contra
os argentinos, as crônicas do Bial no
"Jornal Nacional", as reportagens
carregadas de maquiagem de Fátima Bernardes, os flashes ao vivo
com os tambores do Olodum.
Está desfeito o verdadeiro quadrado mágico entre a seleção, a Rede Globo, a propaganda e o nacionalismo de resultados.
Quem gosta de futebol tem mais
razões para respirar. Os argentinos,
sim, devem lamentar a desclassificação: tinham um belo time, chegaram a exibir o fino da bola. O Brasil,
desde o início, foi seqüestrado por
um agrupamento de vedetes já velhuscas e fora de forma, lobistas de
si mesmos, em busca de feitos individuais e outros negócios. A Globo
tratou de incensá-los.
Ronaldo chegou à Copa pronto
para mostrar a magia do sumô brasileiro. E Roberto Carlos sobrevive
há anos do seu dom de iludir: finge
que ataca, finge que defende. Marcava o nada, antes mesmo de ajeitar
as meias no lance fatal.
Terminado o jogo, um atônito
Galvão Bueno dizia para si mesmo:
"É apenas um jogo, futebol não é tudo na vida". Logo a seguir, ainda
atolado em bugigangas, Faustão
emendava desorientado: "As eleições vêm aí". A idiotia nacional, amplificada por doses inéditas de jornalismo Big Brother, ficou nua no
instante de seu desmanche.
Algo dessa miséria nacionalisteira ainda tentará sobreviver agarrada à figura de Felipão, o vingador.
Parreira é muito teórico, muito melancólico (a versão distante e triste
de Ronald Golias). O brasileiro se
identifica mais com o paternalismo
de Scolari, ao mesmo tempo autoritário e sentimental. Pouco importa
(ou tanto melhor) que sua filosofia
tosca embuta o elogio da botinada.
Torcerei contra o êxito deste sofrível time de guerreiros lusitanos.
Torcerei pelos simpáticos velhinhos da França. Torcerei em silêncio pela consagração final deste gênio da bola -Zinedine Zidane.
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