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Clamor do campo
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
A presidência da CNBB e os membros
da Comissão Episcopal de Pastoral fizeram, a 25 de junho de 1999, veemente
apelo às autoridades do país em favor
dos trabalhadores do campo, vítimas
da violência.
1) Fato lamentável é o do recrudescimento da violência atestada por denúncias fundamentais, com documentos escritos e televisionados. Atualmente há, no Paraná, 41 trabalhadores
rurais presos e vários feridos durante
os despejos realizados pela polícia, de
madrugada, com humilhação, por vezes truculência e até covardes torturas.
Houve nos últimos anos lavradores assassinados. Esse desrespeito à pessoa
humana precisa ser sanado a todo custo. A Comissão Pastoral da Terra
(CPT) conserva em seus arquivos os
dados exatos e dolorosos da escalada
de violência no campo.
2) Tem havido, por parte de alguns
representantes do Poder Judiciário,
atuação autoritária e parcial, com
mandatos injustos de prisão contra a liderança de trabalhadores sem terra e liminares de reintegração de posse de
áreas que não cumprem a função social.
3) O apelo da CNBB reafirma a urgência de uma democratização da terra,
que garanta aos lavradores condições
dignas de vida. A reforma agrária, ampla e integral, é apresentada como única solução para atender à situação de
miséria do homem do campo.
4) Qual a razão do constante adiamento da reforma agrária? Essa demora não traz nenhum benefício ao país e
só confirma a injustiça estrutural em
que vivemos, acarretando grave detrimento para centenas de milhares de famílias relegadas à exclusão social.
5) Os que protelam e impedem as medidas justas e humanitárias em bem
dos trabalhadores sem terra perdem
sempre mais a credibilidade, quando
argúem contra as ocupações, que poderiam e deveriam ser evitadas por
uma sadia política agrária. Temos no
Brasil, graças a Deus, técnicos de exímia competência capazes de programar, de modo pacífico, a distribuição
equitativa da terra e assegurar aos trabalhadores rurais os meios científicos e
financeiros para o plantio e a comercialização do produto.
6) Na atual situação de desemprego
crônico, quem não percebe a necessidade de oferecer condições adequadas
para que muitos brasileiros possam viver e trabalhar no campo? Os índices de
extrema pobreza e miséria mostram o
desacerto do êxodo para as cidades e a
urgência de beneficiar os trabalhadores sem terra e sem emprego.
7) A mobilização da sociedade é indispensável para promover a justiça
social. O acesso à terra deve ser fruto do
amadurecimento da consciência e da
solidariedade cristã.
8) Nesse contexto de respeito e apoio
ao homem do campo, torna-se, também, obrigatório avaliar -com rigor- os atuais projetos de construção
de barragens, especialmente em Minas,
onde centenas de famílias serão obrigadas a abandonar suas terras.
Quanto mais penso, mais me convenço de que se houver patriotismo e amor
fraterno não faltarão terra e trabalho
para ninguém.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados
nesta coluna.
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