São Paulo, Sábado, 03 de Julho de 1999
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Clamor do campo

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A presidência da CNBB e os membros da Comissão Episcopal de Pastoral fizeram, a 25 de junho de 1999, veemente apelo às autoridades do país em favor dos trabalhadores do campo, vítimas da violência.
1) Fato lamentável é o do recrudescimento da violência atestada por denúncias fundamentais, com documentos escritos e televisionados. Atualmente há, no Paraná, 41 trabalhadores rurais presos e vários feridos durante os despejos realizados pela polícia, de madrugada, com humilhação, por vezes truculência e até covardes torturas. Houve nos últimos anos lavradores assassinados. Esse desrespeito à pessoa humana precisa ser sanado a todo custo. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) conserva em seus arquivos os dados exatos e dolorosos da escalada de violência no campo.
2) Tem havido, por parte de alguns representantes do Poder Judiciário, atuação autoritária e parcial, com mandatos injustos de prisão contra a liderança de trabalhadores sem terra e liminares de reintegração de posse de áreas que não cumprem a função social.
3) O apelo da CNBB reafirma a urgência de uma democratização da terra, que garanta aos lavradores condições dignas de vida. A reforma agrária, ampla e integral, é apresentada como única solução para atender à situação de miséria do homem do campo.
4) Qual a razão do constante adiamento da reforma agrária? Essa demora não traz nenhum benefício ao país e só confirma a injustiça estrutural em que vivemos, acarretando grave detrimento para centenas de milhares de famílias relegadas à exclusão social.
5) Os que protelam e impedem as medidas justas e humanitárias em bem dos trabalhadores sem terra perdem sempre mais a credibilidade, quando argúem contra as ocupações, que poderiam e deveriam ser evitadas por uma sadia política agrária. Temos no Brasil, graças a Deus, técnicos de exímia competência capazes de programar, de modo pacífico, a distribuição equitativa da terra e assegurar aos trabalhadores rurais os meios científicos e financeiros para o plantio e a comercialização do produto.
6) Na atual situação de desemprego crônico, quem não percebe a necessidade de oferecer condições adequadas para que muitos brasileiros possam viver e trabalhar no campo? Os índices de extrema pobreza e miséria mostram o desacerto do êxodo para as cidades e a urgência de beneficiar os trabalhadores sem terra e sem emprego.
7) A mobilização da sociedade é indispensável para promover a justiça social. O acesso à terra deve ser fruto do amadurecimento da consciência e da solidariedade cristã.
8) Nesse contexto de respeito e apoio ao homem do campo, torna-se, também, obrigatório avaliar -com rigor- os atuais projetos de construção de barragens, especialmente em Minas, onde centenas de famílias serão obrigadas a abandonar suas terras.
Quanto mais penso, mais me convenço de que se houver patriotismo e amor fraterno não faltarão terra e trabalho para ninguém.


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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