São Paulo, sábado, 03 de agosto de 2002

Próximo Texto | Índice

INDEFINIÇÃO

Nas negociações a toque de caixa entre o governo brasileiro, o Fundo Monetário Internacional e o Tesouro dos Estados Unidos, há uma "cláusula política" difusa. Menciona-se a necessidade de algum tipo de endosso ao novo acordo com o Fundo por parte dos candidatos à sucessão presidencial. Mas, até agora, não se sabe ao certo quais serão os termos para esse acordo nem está claro sob que forma os presidenciáveis dele participariam.
Há mais que simples pressão política do Fundo ou um interesse partidário do governismo na preocupação com o futuro desse acordo com o FMI. Há uma questão de calendário. Criou-se uma situação em que o trato tem de ser fechado já neste governo, mas que, para ser efetivo no que se destina -dissipar a pressão cambial e reabrir as linhas de financiamento externo para a economia brasileira- deve perdurar, no mínimo, até o ano que vem. Ou seja, o sucessor de FHC terá, necessariamente, de conduzir o restante do acordo.
O ideal seria que houvesse uma solução à coreana. Em 1997, criou-se uma situação semelhante naquele país asiático. Tão logo foi eleito, o sucessor do presidente que deixaria o poder foi chamado pelo Fundo e assinou um termo de transição. Ocorre que o Brasil não pode esperar mais quatro meses para saber quem será eleito em outubro.
É virtualmente impraticável, neste momento, qualquer solução de compromisso entre os candidatos à Presidência que vá além de um acordo político genérico. E o núcleo desse compromisso deve girar em torno da disposição de manter baixa a inflação e de cumprir a meta de superávit primário que, afinal, já estará designada na lei orçamentária quando o novo presidente assumir -contanto, é claro, que o FMI não exija um aumento drástico desse arrocho.
Como se trata basicamente de um acordo político, é de FHC que deve partir a iniciativa de costurá-lo com os presidenciáveis. Armínio Fraga e Pedro Malan podem ser muito bons para lidar com a burocracia internacional. Mas a atuação do presidente da República é insubstituível para que se chegue a esse consenso mínimo entre as forças políticas que disputam o Palácio do Planalto.



Próximo Texto: Editoriais: REDE CLANDESTINA
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.