São Paulo, terça-feira, 03 de agosto de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES E agora, São Paulo?
LUIZ CARLOS COSTA
Haverá ainda outra versão: o projeto aprovado ainda não atende, como prometido, às críticas feitas ao PDE no sentido de consolidar objetivos e estratégias de grande envergadura, demonstrar tecnicamente a eficácia das propostas e sua viabilidade em face dos recursos. Apesar do longo atraso, não permitiu tempo e condições para o debate democrático adequado à natureza do plano, só concedendo sobre as propostas finais poucos minutos para que a sociedade apresentasse críticas e alternativas. Nos planos regionais, improvisados na metodologia e desconexos nos resultados, as comunidades não puderam examinar as propostas finais do trabalho que iniciaram, pondo em questão a efetividade democrática da participação havida. O zoneamento proposto, só apresentado na última hora, sem informação e tempo para o debate, torna o sistema de normas urbanísticas muito mais complexo, inviabiliza sua análise e fiscalização pelos cidadãos; favorece o arbítrio do Executivo e a possibilidade de corrupção; debilita a base legal das ações comunitárias em defesa da qualidade de vida. A apresentação de três projetos distintos e complexos em um projeto único criou uma peça legislativa impossível de ser responsavelmente apreciada no ritmo frenético acordado entre o Executivo e o Legislativo. É obvio que ambas as versões têm parte da verdade, mas a única conclusão segura é que uma avaliação objetiva dos méritos e deméritos do plano jamais poderá ser feita e debatida neste momento, em que a campanha política tudo radicaliza, forçando a avaliações sem nuances e pondo em suspeição quem externar dúvidas e reflexões eventualmente inoportunas para os candidatos que apóie. Como velho estudioso do tema, sinto-me solidário com os que querem refletir para além dessa conjuntura passageira, procurando saídas que interessem ao conjunto da cidade e dos cidadãos. Nesse sentido, quero compartilhar duas convicções. Primeiro, que é fundamental e digno para todos os que trabalharam na produção e na crítica do projeto admitir que o processo de elaboração do Plano Diretor ainda está incompleto e comporta reparos. Segundo, que a sociedade tem o direito de exigir da esfera política um processo de elaboração do plano com as características de objetividade, confiabilidade técnica, democracia e eficácia operacional que muitos afirmam não terem sido obtidas ainda -mas que poderão ser alcançadas em breve, se forem criadas oportunidades para tanto. Alguns dos aperfeiçoamentos se referem a dispositivos do zoneamento aprovado que não poderiam entrar em vigor sem correções ou sem a indispensável análise pública de seus efeitos. Isso pode ser feito pela própria prefeita, no prazo que tem para sancionar o projeto com os necessários vetos, à semelhança do que fez quando o PDE foi aprovado. Outros aperfeiçoamentos visarão superar debilidades mais gerais do plano. Por exemplo, a fim de dar maior clareza e consistência às diretrizes e políticas propostas e de produzir as demonstrações exigíveis de que, se forem implementadas, gerarão mudanças estruturais no processo urbano. Só assim a coletividade terá certeza de que o plano é necessário à superação dos problemas críticos da cidade e à condução democrática da metrópole a um novo patamar de desenvolvimento, à altura de suas imensas potencialidades. A oportunidade de isso se fazer concretamente já está definida no próprio PDE, quando estabelece que em 2006, portanto num intervalo excepcionalmente curto, um novo Plano Diretor deverá ser aprovado. Se é verdade que o desafio de sua correta elaboração deverá envolver toda a sociedade, ele dependerá especialmente da liderança do prefeito a ser eleito -ou reeleito. Nada mais oportuno, portanto, do que todos os candidatos explicitarem qual o compromisso que assumem com um aperfeiçoamento essencial do plano atual e com a eliminação das lacunas e riscos que, apesar dos esforços de tantos, ainda não foram superados. Luiz Carlos Costa, 68, arquiteto e urbanista, consultor, é professor de planejamento urbano da FAU-USP. Foi coordenador da equipe técnica do Plano Diretor de São Paulo (1981/ 83). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Geraldo Alckmin: Prioridade para o transporte coletivo Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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