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CARGA PESADA
Embora não seja propriamente
nova, vai se difundindo a percepção de que a sociedade brasileira
paga impostos demais para receber
serviços de menos. Com uma carga
tributária de 36% do Produto Interno
Bruto (PIB) em 2002, segundo a Receita Federal, o Brasil nesse quesito
equipara-se a países europeus, sem
atingir a mesma qualidade e eficiência nos serviços públicos. O proposta
de reforma em debate na Câmara
não deverá melhorar essa situação.
Ao contrário, poderá piorá-la.
A progressiva elevação da carga tributária no Brasil vem ocorrendo desde 1994, quando representava 25%
do PIB. Parte significativa desse aumento foi direcionada para pagamento de juros da dívida pública, e
não para gastos sociais e investimentos em infra-estrutura.
Nos últimos anos, a cada crise externa sobreveio um choque de juros e
um pacote tributário. Aos aumentos
de impostos corresponderam elevações das despesas financeiras do setor público, formando-se um circulo
vicioso que gerou a necessidade de
um "ajuste fiscal permanente".
A compressão do gasto público para cumprir as metas de superávits
primários acordadas com o FMI desde 1998 afeta diretamente a população de baixa renda, exatamente aquela mais atingida por uma carga tributária crescente. Os impostos diretos
e indiretos absorvem 41,7% dos salários, mais do que ocorre, por exemplo, na Bélgica e na Alemanha.
Entre janeiro e julho deste ano, o
setor público apresentou um superávit primário de R$ 44,3 bilhões, insuficiente para pagar os juros de R$
89,3 bilhões (10,18% do PIB). Como
resultado, o estoque da dívida pública cresceu para R$ 877,1 bilhões.
Lamentavelmente, num cenário
como esse, a linha de menor resistência para conciliar interesses conflitantes e preservar o ajuste fiscal
tende a ser exatamente um novo aumento da carga tributária.
Será desastroso se for essa a consequência de uma reforma da qual a
sociedade espera maior simplificação e estímulos ao setor produtivo e
às exportações.
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