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CLÓVIS ROSSI
O "lado" e a competência
SÃO PAULO - Vamos supor, apenas para raciocinar, que José Serra, como
ministro da Saúde, tivesse seguido a
teoria segundo a qual "tem de ter lado" (para fazer parte do governo).
Teoria, para quem não se lembra,
elaborada, divulgada e defendida
por Humberto Costa, atual ministro
da Saúde.
Se Serra tivesse seguido tal lógica,
Paulo Roberto Teixeira não teria
continuado à frente da Coordenação
Nacional de DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis)/Aids.
Teixeira nunca escondeu seu "lado", o do PT. Portanto não poderia
ser tolerado pelos tucanos.
No entanto ficou no cargo e, mais
que ficar, ajudou substancialmente a
dar ao programa de combate à Aids
do Brasil tal relevo que a OMS (Organização Mundial de Saúde) chamou-o para trabalhar em Genebra.
Só por isso, mudou de "lado", embora o seu partido tenha chegado ao
governo no Brasil.
Teixeira foi o braço direito de Serra
na disputa, em Doha, para extrair
uma declaração sobre patentes e saúde pública que abriu espaço para que
países pobres importem medicamentos mais baratos (os genéricos) em casos de crises de saúde pública.
(A bem da verdade, registre-se que
o hoje chanceler Celso Amorim foi
igualmente fundamental na batalha
travada em Doha).
Vê-se, por esse caso, que ter "lado"
não pode e não deve ser o eixo a partir do qual se escolhem funcionários
públicos. É até justo que seja um dos
critérios, mas o principal deveria ser
competência, não "lado".
As crises do Inca (Instituto Nacional do Câncer) e, agora, da Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária) parecem demonstrar que o
ministro Humberto Costa preferiu o
"lado" à competência.
Perderam ele, o governo e, principalmente, o público. Porque escolher
apenas pelo "lado" é correr sempre o
risco de escolher o lado errado.
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