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São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O "lado" e a competência

SÃO PAULO - Vamos supor, apenas para raciocinar, que José Serra, como ministro da Saúde, tivesse seguido a teoria segundo a qual "tem de ter lado" (para fazer parte do governo).
Teoria, para quem não se lembra, elaborada, divulgada e defendida por Humberto Costa, atual ministro da Saúde.
Se Serra tivesse seguido tal lógica, Paulo Roberto Teixeira não teria continuado à frente da Coordenação Nacional de DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis)/Aids.
Teixeira nunca escondeu seu "lado", o do PT. Portanto não poderia ser tolerado pelos tucanos.
No entanto ficou no cargo e, mais que ficar, ajudou substancialmente a dar ao programa de combate à Aids do Brasil tal relevo que a OMS (Organização Mundial de Saúde) chamou-o para trabalhar em Genebra.
Só por isso, mudou de "lado", embora o seu partido tenha chegado ao governo no Brasil.
Teixeira foi o braço direito de Serra na disputa, em Doha, para extrair uma declaração sobre patentes e saúde pública que abriu espaço para que países pobres importem medicamentos mais baratos (os genéricos) em casos de crises de saúde pública.
(A bem da verdade, registre-se que o hoje chanceler Celso Amorim foi igualmente fundamental na batalha travada em Doha).
Vê-se, por esse caso, que ter "lado" não pode e não deve ser o eixo a partir do qual se escolhem funcionários públicos. É até justo que seja um dos critérios, mas o principal deveria ser competência, não "lado".
As crises do Inca (Instituto Nacional do Câncer) e, agora, da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) parecem demonstrar que o ministro Humberto Costa preferiu o "lado" à competência.
Perderam ele, o governo e, principalmente, o público. Porque escolher apenas pelo "lado" é correr sempre o risco de escolher o lado errado.


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