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MANOBRA CASUÍSTA
Ao que parece, a Presidência
da República está empenhada
na tentativa de perpetrar mais um casuísmo conveniente ao Executivo: a
aprovação de uma emenda constitucional que permitiria a reeleição dos
atuais presidentes da Câmara e do
Senado. O caso tem constrangido até
mesmo membros do partido governista, tão gritante é o fato de que a
proposta está subordinada a interesses políticos imediatos.
Em si mesma, a tese da reeleição é
até defensável, pois esse instituto é
valido para cargos executivos. Não é,
no entanto, a tese que encanta o Planalto, mas a perspectiva de estender
o período de permanência dos atuais
presidentes no comando das duas
casas do Legislativo. A reeleição é vista como um passo estratégico para o
governo assegurar maioria no Congresso e ascendência sobre o comando das duas casas.
O principal obstáculo ao plano urdido pelo Executivo materializa-se na
figura do senador Renan Calheiros,
que pertence a uma ala do PMDB
conflitante com a do atual presidente
do Senado, José Sarney. Calheiros é
candidato ao posto de presidente do
Senado e tem oferecido forte resistência à emenda.
Anteontem, porém, reuniu-se com
o presidente da República, que teria
apresentado seus argumentos, entre
eles a oferta de um papel de destaque
para o senador numa articulação do
PT com o PMDB com vistas à campanha pela reeleição, em 2006. Calheiros tem garantido que não participará de barganhas, mas, em política,
declarações desse tipo muitas vezes
já são o início da negociação.
No encontro, o presidente Lula teria avisado que, se o PMDB entrasse
em guerra contra a emenda, iria buscar apoio em setores da oposição.
Sabe-se que o governo tenta atrair
um grupo de senadores do PFL, tendo à frente o ex-inimigo do petismo
Antonio Carlos Magalhães. Caso o
intento de dobrar as resistências seja
bem-sucedido, a proposta beneficiará os atuais presidentes em mais
uma manobra casuísta.
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