|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Arrombando portas
BRASÍLIA - O chefe da Casa Civil, José Dirceu, não tem papas na língua.
Xinga governadores, ataca senadores
e guerreia com colegas do próprio governo -Palocci que o diga.
Mas Dirceu promete agora usar o
seu estilo trator de uma outra forma,
mais positiva. Diz que "vai arrombar
portas" para obter uma ajudazinha
do empresariado nacional e garantir
investimentos para a depauperada
infra-estrutura brasileira.
Não se sabe exatamente o que o ministro quer dizer com "arrombar portas", até porque as portas entre governo e empresariado já estão bem
abertas, arrombadas até.
O novo presidente da Fiesp (principal entidade empresarial do país),
Paulo Skaf, elegeu-se com apoio dos
homens do poder e, ontem, esteve
com Lula, no Planalto, e com Henrique Meirelles, no BC. Eugênio Staub,
que apoiou Lula num momento decisivo da campanha de 2002, jantava
socialmente em Brasília na terça.
E os empresários, enquanto "categoria", parecem estar em tudo e em
todas. Participam da reforma do Alvorada e são conclamados em mensagens do governo para campanhas
de auto-estima no 7 de Setembro, enquanto Dirceu se digladia com a oposição, especialmente com o tucano
Tasso Jereissati, para aprovar a nova
menina dos olhos de Lula -as PPPs
(Parcerias Público-Privadas), que
vão facilitar muito arrombar a porta.
Que os empresários devem assumir
responsabilidades pelo desenvolvimento e pela redução das desigualdades, ninguém questiona. Mas o
alerta do oposicionista Tasso contra
essa simbiose tão ostensiva nas PPPs
soa assim: "Quem avisa amigo é".
Até porque se há um traço bem característico das atuais eleições municipais é justamente esse: nunca o PT
fez campanhas tão ricas e tão sofisticadas, em especial, e não por acaso,
nos grandes centros empresariais.
Quando se arrombam portas, elas
abrem em mão dupla, para dentro e
para fora, numa nova versão do velho "é dando que se recebe". O governo do PT deveria ter o maior cuidado
com isso enquanto é tempo.
Texto Anterior: Monterrey (México) - Clóvis Rossi: Perplexidades Próximo Texto: Rio de Janeiro - Claudia Antunes: Maia, herdeiro do PT Índice
|