São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Arrombando portas

BRASÍLIA - O chefe da Casa Civil, José Dirceu, não tem papas na língua. Xinga governadores, ataca senadores e guerreia com colegas do próprio governo -Palocci que o diga.
Mas Dirceu promete agora usar o seu estilo trator de uma outra forma, mais positiva. Diz que "vai arrombar portas" para obter uma ajudazinha do empresariado nacional e garantir investimentos para a depauperada infra-estrutura brasileira.
Não se sabe exatamente o que o ministro quer dizer com "arrombar portas", até porque as portas entre governo e empresariado já estão bem abertas, arrombadas até.
O novo presidente da Fiesp (principal entidade empresarial do país), Paulo Skaf, elegeu-se com apoio dos homens do poder e, ontem, esteve com Lula, no Planalto, e com Henrique Meirelles, no BC. Eugênio Staub, que apoiou Lula num momento decisivo da campanha de 2002, jantava socialmente em Brasília na terça.
E os empresários, enquanto "categoria", parecem estar em tudo e em todas. Participam da reforma do Alvorada e são conclamados em mensagens do governo para campanhas de auto-estima no 7 de Setembro, enquanto Dirceu se digladia com a oposição, especialmente com o tucano Tasso Jereissati, para aprovar a nova menina dos olhos de Lula -as PPPs (Parcerias Público-Privadas), que vão facilitar muito arrombar a porta.
Que os empresários devem assumir responsabilidades pelo desenvolvimento e pela redução das desigualdades, ninguém questiona. Mas o alerta do oposicionista Tasso contra essa simbiose tão ostensiva nas PPPs soa assim: "Quem avisa amigo é".
Até porque se há um traço bem característico das atuais eleições municipais é justamente esse: nunca o PT fez campanhas tão ricas e tão sofisticadas, em especial, e não por acaso, nos grandes centros empresariais.
Quando se arrombam portas, elas abrem em mão dupla, para dentro e para fora, numa nova versão do velho "é dando que se recebe". O governo do PT deveria ter o maior cuidado com isso enquanto é tempo.


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