São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Perplexidades

MONTERREY (MÉXICO) - Fazia tempo que não me permitia o luxo de mergulhar em discussões intensas sobre o ofício de jornalista. A Fundación para un Nuevo Periodismo Iberoamericano, criado pelo Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, deu-me esse presente.
Melhor ainda: discussões que envolveram jornalistas muito jovens, abaixo dos 30 anos, e outros de tremenda experiência, como o colombiano José Salgar, ativo e instigante nas idéias aos seus 85 anos, dos quais 70 como jornalista.
Profissionais de 14 países envolveram-se diretamente nos debates, número suficiente para mostrar que uma nuvem de perplexidade cerca a profissão no mundo todo (detalhe: perplexidades que nem remota nem tangencialmente são tocadas pelo projeto de criação dos conselhos de jornalismo no Brasil).
Seria impraticável resumir aqui todas as perplexidades, mas uma delas me parece a central. Começa pela constatação de que houve uma queda forte na venda de jornais em quase todo o mundo (o debate foi essencialmente sobre mídia impressa). Continua com a avaliação de que é a internet que está devorando os leitores dos jornais.
Se fosse só isso, o problema poderia resumir-se a transferir os jornais do papel para os meios eletrônicos. O diabo é que, segundo cálculos exibidos nos seminários (referentes aos Estados Unidos), o lucro de um ano de um site de jornal na internet eqüivale ao lucro de uma semana de um jornal impresso.
Ou, posto de outra forma: o jornal pela internet não é suficientemente rentável para sustentar uma Redação como as que hoje fazem o jornal em papel (por mais que tais Redações tenham sofrido brutais lipoaspirações nos últimos anos).
Não é difícil entender, por isso, a perplexidade tanto de velhinhos como eu, para quem o jornal em papel faz mais parte da vida diária do que o fato de o sol nascer todos os dias, como a da garotada, que tem dificuldade para ver um lugar no futuro que já chegou.


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