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CLÓVIS ROSSI
Perplexidades
MONTERREY (MÉXICO) - Fazia tempo que não me permitia o luxo de
mergulhar em discussões intensas sobre o ofício de jornalista. A Fundación para un Nuevo Periodismo Iberoamericano, criado pelo Nobel de
Literatura Gabriel García Márquez,
deu-me esse presente.
Melhor ainda: discussões que envolveram jornalistas muito jovens,
abaixo dos 30 anos, e outros de tremenda experiência, como o colombiano José Salgar, ativo e instigante
nas idéias aos seus 85 anos, dos quais
70 como jornalista.
Profissionais de 14 países envolveram-se diretamente nos debates, número suficiente para mostrar que
uma nuvem de perplexidade cerca a
profissão no mundo todo (detalhe:
perplexidades que nem remota nem
tangencialmente são tocadas pelo
projeto de criação dos conselhos de
jornalismo no Brasil).
Seria impraticável resumir aqui todas as perplexidades, mas uma delas
me parece a central. Começa pela
constatação de que houve uma queda forte na venda de jornais em quase todo o mundo (o debate foi essencialmente sobre mídia impressa).
Continua com a avaliação de que é a
internet que está devorando os leitores dos jornais.
Se fosse só isso, o problema poderia
resumir-se a transferir os jornais do
papel para os meios eletrônicos. O
diabo é que, segundo cálculos exibidos nos seminários (referentes aos Estados Unidos), o lucro de um ano de
um site de jornal na internet eqüivale
ao lucro de uma semana de um jornal impresso.
Ou, posto de outra forma: o jornal
pela internet não é suficientemente
rentável para sustentar uma Redação como as que hoje fazem o jornal
em papel (por mais que tais Redações
tenham sofrido brutais lipoaspirações nos últimos anos).
Não é difícil entender, por isso, a
perplexidade tanto de velhinhos como eu, para quem o jornal em papel
faz mais parte da vida diária do que
o fato de o sol nascer todos os dias, como a da garotada, que tem dificuldade para ver um lugar no futuro que já
chegou.
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