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REFORMA PERDIDA
Os piores prognósticos acerca
da reforma tributária estão se
cumprindo -se é que essa colcha de
retalhos que está sendo produzida
pelo governo e pelo Congresso pode
ser chamada de reforma. Não foram
poucos os alertas, inclusive desta Folha, sobre os riscos de discutir a
questão tributária numa conjuntura
de recessão econômica, na qual o
apetite fiscal da União, dos Estado e
dos municípios torna-se ainda mais
voraz. Tudo, de fato, parece girar em
torno apenas das urgências de caixa
dos diversos níveis de governo.
Os aspectos mais relevantes da
questão, que deveriam ser justiça tributária, racionalização dos impostos
e estímulos à atividade econômica,
saíram de cena para dar lugar a uma
disputa por interesses localizados,
na qual reeditou-se até a deletéria
guerra fiscal entre Estados -justamente o que a proposta, segundo o
governo, iria suprimir.
Não bastasse o constrangedor espetáculo encenado nos últimos dias,
com governadores apressando-se
em conceder isenção fiscal para centenas de projetos, com o intuito de
aproveitar o prazo estabelecido para
essas medidas, ninguém mais parece ter dúvida de que os contribuintes
serão submetidos a novo aumento
da já insuportável carga tributária.
Mais uma vez, como tem ocorrido
nos últimos anos, o Estado arma o
bote para absorver recursos da sociedade sem oferecer a mínima garantia
de retorno sob a forma de melhores
serviços e políticas públicas.
Diante da enorme confusão em
que se transformaram as negociações, o Senado anuncia que irá "fatiar" o projeto, aprovando o que mais
interessa ao governo federal, isto é, a
prorrogação da CPMF e da Desvinculação das Receitas da União (DRU).
O restante deverá ser objeto de novas
sugestões, que ainda poderão ser alteradas quando o proposta voltar à
Câmara. É difícil ser otimista e crer
que algo de bom possa sair dessa situação. Fica a impressão de que o governo está prestes a desperdiçar as
suas chances de vir a promover uma
verdadeira reforma tributária -o
que é uma má notícia para o país.
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