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DESCONFIANÇA
A tendência de queda da taxa
básica de juros ao lado de pequenas reduções do custo do crédito
e do declínio da inflação criaram a
expectativa de que a atividade econômica, depois de amargar um primeiro semestre muito negativo, começaria finalmente a reagir a partir do terceiro trimestre. Os dados até o momento conhecidos, no entanto, suscitam dúvidas quanto à intensidade
dessa reação e mesmo em relação à
possibilidade de que ela ganhe maior
ímpeto no final do ano.
Há alguns indicadores positivos.
Por exemplo, a atividade da indústria
paulista aumentou 0,3% de julho para agosto, segundo levantamento da
Fiesp, e a arrecadação de ICMS em
São Paulo teve em setembro seu terceiro mês consecutivo de recuperação. Além disso, a concessão de crédito teve expansão de 4,6% nos 20
primeiro dias de setembro de acordo
com o Banco Central, que avaliou
que o movimento está associado a
uma maior demanda por consumo.
Mas algumas informações põem
em dúvida o vigor da retomada do
consumo. A Associação Comercial
de São Paulo constatou que o consumidor, em setembro, reduziu as
compras e tem gastado o que sobra
no mês para quitar dívidas. Além disso, dados da própria ACSP, corroborados por pesquisa da Universidade
de São Paulo, mostram extrema cautela na intenção de compra. Segundo
os números da USP, 55,4% dos paulistanos não pretendem comprar nada de outubro a dezembro. Já a ACSP
verificou que 63% dizem que não
comprarão a crédito nos próximos
meses -percentual que em outubro
do ano passado era de 28%.
Esse quadro sugere uma grave corrosão da confiança dos consumidores -o que contrasta com as expectativas mais otimistas a respeito das
consequências dos cortes efetuados
até aqui na taxa básica de juros. Convencer os consumidores, que têm experimentado recorrentes dificuldades ao longo dos últimos anos, a assumir uma posição menos cautelosa
é mais um desafio que se antepõe à
consolidação da retomada da atividade econômica.
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