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São Paulo, sexta-feira, 03 de outubro de 2003

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DESCONFIANÇA

A tendência de queda da taxa básica de juros ao lado de pequenas reduções do custo do crédito e do declínio da inflação criaram a expectativa de que a atividade econômica, depois de amargar um primeiro semestre muito negativo, começaria finalmente a reagir a partir do terceiro trimestre. Os dados até o momento conhecidos, no entanto, suscitam dúvidas quanto à intensidade dessa reação e mesmo em relação à possibilidade de que ela ganhe maior ímpeto no final do ano.
Há alguns indicadores positivos. Por exemplo, a atividade da indústria paulista aumentou 0,3% de julho para agosto, segundo levantamento da Fiesp, e a arrecadação de ICMS em São Paulo teve em setembro seu terceiro mês consecutivo de recuperação. Além disso, a concessão de crédito teve expansão de 4,6% nos 20 primeiro dias de setembro de acordo com o Banco Central, que avaliou que o movimento está associado a uma maior demanda por consumo.
Mas algumas informações põem em dúvida o vigor da retomada do consumo. A Associação Comercial de São Paulo constatou que o consumidor, em setembro, reduziu as compras e tem gastado o que sobra no mês para quitar dívidas. Além disso, dados da própria ACSP, corroborados por pesquisa da Universidade de São Paulo, mostram extrema cautela na intenção de compra. Segundo os números da USP, 55,4% dos paulistanos não pretendem comprar nada de outubro a dezembro. Já a ACSP verificou que 63% dizem que não comprarão a crédito nos próximos meses -percentual que em outubro do ano passado era de 28%.
Esse quadro sugere uma grave corrosão da confiança dos consumidores -o que contrasta com as expectativas mais otimistas a respeito das consequências dos cortes efetuados até aqui na taxa básica de juros. Convencer os consumidores, que têm experimentado recorrentes dificuldades ao longo dos últimos anos, a assumir uma posição menos cautelosa é mais um desafio que se antepõe à consolidação da retomada da atividade econômica.


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