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TENDÊNCIAS/DEBATES
A escolha do Rio como sede da Olimpíada
de 2016 é uma boa notícia para o Brasil?
SIM
Uma grande oportunidade
MAURICIO MURAD
TANTAS EXPECTATIVAS e dúvidas, mas está decidido: os Jogos
Olímpicos de 2016 serão no Rio
de Janeiro. Agora, o importante é o
que vamos fazer com essa grande
oportunidade. Não podemos perdê-la. Somos bons em diversos esportes,
não só no futebol. Neste, é consenso
internacional que sobramos. Como
identidade cultural, só nossa música
se iguala ao futebol.
O Rio venceu fortes concorrentes.
Foi escolhido, apesar da violência, da
infraestrutura precária, da rede hoteleira insuficiente (transatlânticos virão para a orla carioca para ampliar a
oferta de quartos), do trânsito/transporte, da poluição da baía de Guanabara (um dos compromissos do Pan
2007, com tecnologia e balsas australianas, lembram?), da corrupção, da
impunidade (o TCU não engoliu as
contas do Pan) e das politicagens em
todos os níveis.
Nada disso é novidade hoje, embora seja tudo alarmante. A novidade é o
que podemos ganhar com os Jogos.
O Comitê Olímpico Internacional e
seus investidores exigem muito, cobram resultados, mas também ajudam com segurança, turismo, saúde,
educação, meio ambiente.
Com essa gente, não tem brincadeira. Os interesses são enormes, e prazos, metas, orçamentos e compromissos têm que ser cumpridos. Uma boa
oportunidade para o Brasil experimentar coletivamente novos conceitos, melhores valores e mentalidades.
A Constituição diz que o esporte é
direito do cidadão e dever do Estado.
Que os governantes respeitem a
Constituição para que o legado dos
Jogos (o do Pan 2007 foi lamentável)
se traduza em benefícios para a população, principalmente para seus segmentos mais necessitados, tão carentes de oportunidades e políticas públicas de inclusão social.
A FGV fez estudo e projetou resultados animadores: os Jogos de 2016
no Rio podem repercutir em todo o
Brasil até 2020, pelo menos. Isso, claro, se as coisas forem bem feitas.
Como prevê o COI: avaliar, planejar
e investir no curto, médio e longo prazos; mapear e intervir nos problemas,
com ações socioculturais de alto nível; aproveitar ao máximo o evento
antes, durante e depois.
É um direito e um dever ir além do
campo esportivo, agregar valores e
realizações que fiquem. Temos um
histórico de vitórias esportivas. É hora de outras conquistas. Os Jogos são
uma chance rara de ajudar a construir
e a cumprir esse plano estratégico.
Os ganhos nos níveis do emprego
direto e indireto na cultura, na segurança, na educação e em outros domínios são conhecidos. Mas também são
conhecidas experiências com baixo
resultado.
O Rio é, historicamente, uma cidade esportiva e tem tudo para servir de
bom exemplo. Depende de nós: governos (sobretudo), empresários,
universidades, escolas, comunidades.
O Brasil precisa ganhar uma alma nova e passar suas instituições a limpo.
Que tal aproveitarmos os investimentos e a pressão internacional que
virão com os Jogos para fazer da segurança, do meio ambiente, da geração
de empregos e da escola verdadeiras
prioridades? Não é porque nos falta
isso -os críticos têm lá as suas razões- que devemos ser contra a
Olimpíada no Rio. Que tal fazermos
desse megaevento um meio para melhorarmos em diversos aspectos?
Novos conceitos de cidadania, desenvolvimento e valorização do esporte educacional, envolvimento das
escolas e do professorado e uma política de longo prazo para as áreas esportivas são legados exigidos pelo
COI. Não são favores, são direitos
previstos e bem vistos pelo comitê e
por seus patrocinadores.
Temos que fazer mais, organizar
melhor e controlar os custos. Bilhões
estarão em jogo e sob avaliação internacional. Nossa imagem também.
Esporte é uma atividade socioeducativa, uma expressão de identidade,
um fator de socialização. Os esportes
contribuem para aproximar da sociedade aqueles que a economia e a política afastam. Nenhum evento esportivo resolverá nossas questões básicas,
estruturais e históricas, mas poderá
ajudar. E como!
MAURICIO MURAD , sociólogo, doutor em sociologia do
esporte, é professor da Uerj (Universidade do Estado do
Rio de Janeiro) e da Universo.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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