São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

"Membros do clube"

QUITO - Enrique Iglesias, o presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), vai ao Brasil na semana que vem para, entre outros compromissos, avistar-se com Luiz Inácio Lula da Silva.
"Vai levar um cheque gordo?", brincou a Folha com Iglesias, que participou em Quito da reunião ministerial da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
"Não, por enquanto, só flores", devolveu Iglesias.
Não é muito, mas é mais do que os organismos internacionais, em especial o FMI (Fundo Monetário Internacional), têm oferecido aos países em desenvolvimento. Claro que o Fundo, sob orientação norte-americana, concedeu o pacote de US$ 30 bilhões ao governo Fernando Henrique. Mas as condições a ele vinculadas são tremendas -as mesmas que críticos como o Nobel de Economia Joseph Stiglitz têm atacado quando aplicadas a outros países.
O pior não é nem isso. É o fato de que há uma condição não escrita na ajuda aos países em dificuldades: convém que os homens que conduzem a economia sejam "membros do clube", como ouviu a Folha de alto funcionário de instituições regionais aqui em Quito.
Traduzindo: pessoas como Armínio Fraga e Pedro Malan transitam com facilidade pelo FMI, pelo Tesouro norte-americano etc. Já o novo governo argentino, muito mais sufocado, não inclui "membros do clube" e recebe tratamento de pária.
Pior: o Fundo ajudou, com seu suporte ao câmbio fixo, a criar a armadilha que, em última análise, levou ao colapso argentino. Por quê? Porque um "membro do clube", Domingo Cavallo, estava no comando.
O PT não parece ter, entre seus economistas, "membros do clube". Mas especula-se com a hipótese de que alguém dessa estirpe seja chamado ou para a Fazenda ou para presidir o Banco Central.
Seria importante, dizem, para acalmar os mercados. Pode ser. Mas não custa lembrar que os mercados se agitaram -e muito- mesmo sob a regência de "membros do clube".


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