São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

O fim das eras

RIO DE JANEIRO - Apesar das repetidas confissões aqui do cronista, que não gosta nem entende de política, é inevitável que ele receba e-mails perguntando: ""Como vai ser o governo Lula?".
Uma pergunta idiota, pois nem mesmo o novo presidente sabe como será o seu governo. Se depender dele, exclusivamente dele, será um governo de austeridade, norteado pelo bem público e, em especial, pelo bem da classe dos trabalhadores, que, afinal, é a sua classe de origem e da qual é o primeiro representante a chegar ao poder.
Por mais importante que seja a sua personalidade, por mais que sejam sinceras as suas intenções, o governo não dependerá dele nem de suas idéias -muito menos de suas boas intenções. Tampouco de sua equipe, por melhor que ela seja.
A humanidade como um todo, e não somente o Brasil, atravessa uma fase de mudanças vertiginosas e inesperadas. Um século durava um século, as transformações políticas, econômicas e sociais podiam ser medidas por eras.
A Idade Média, por exemplo, durou 800 anos. Segundo alguns historiadores, durou um pouco mais. A Era Vargas durou 34 anos, da Revolução de 30 à Revolução de 64. A era Collor durou pouco mais de dois anos.
Até certo ponto, tanto a Idade Média como as eras de Vargas e de Collor duraram o que duraram pela permanência de variáveis que podiam ser sustentadas pelo regime feudal, pelo regime totalitário e pela esculhambação pessoal do colorato alagoano.
Hoje, as variáveis são invariavelmente imprevisíveis. Um ataque ao Iraque, um novo 11 de setembro em qualquer parte do mundo, um acidente ecológico de graves proporções podem alterar instantaneamente o panorama nacional dos países.
Uma tecla apertada no computador de um Banco Central, aqui (ou, como diria o conselheiro Acácio, alhures), botaria tudo de cabeça para baixo.
Há espaço para a esperança. Apesar de tudo.


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