São Paulo, quinta-feira, 03 de novembro de 2011

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Sai Marta, entra Haddad

Ao confirmar, como parece inevitável, a vontade de seu cacique na escolha do candidato à Prefeitura de São Paulo, o PT fará uma aposta que ultrapassa o pleito de 2012.
Pressionada por Lula e pela presidente Dilma Rousseff, a senadora Marta Suplicy deve anunciar hoje sua desistência da prévia partidária que definiria o postulante da legenda na cidade.
Uma protocolar consulta interna, se necessária, apenas oficializará a candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad, há meses ungido pelo ex-presidente.
Marta enfrenta no PT dificuldades semelhantes às que criou para si mesma entre os eleitores de São Paulo. Apesar de contar com o apoio de parte da militância partidária e de ter respaldo nas camadas mais pobres da população, a ex-prefeita comporta-se muitas vezes de forma conflituosa, cria desafetos e alimenta resistências.
Na última pesquisa Datafolha sobre a sucessão municipal, a petista liderava a disputa com cerca de 30% das intenções de voto. Contava, em contrapartida, com a rejeição de fatia equivalente do eleitorado. A soma dos números a levaria, provavelmente, ao segundo turno -e à derrota.
Numa cidade e num Estado menos permeáveis ao apelo do lulismo, a ideia é mostrar uma nova face, um candidato com ares de moderado e "técnico", com potencial para conquistar simpatias.
Não faltam prestígio e qualidades intelectuais a Haddad. Mas, se sua passagem pela administração federal tem sido marcada por algumas iniciativas louváveis, saltam aos olhos os sucessivos fiascos operacionais na organização das provas do Enem. A cada aplicação do teste aparecem falhas, contestações e disputas judiciais.
Com esse passivo e desprovido de experiência eleitoral, Haddad deve ser alvo fácil para ataques de adversários. A seu favor, tem a idade, uma vez que, com 48 anos, pode usar a campanha como plataforma para futuras investidas.
A tentativa de reciclagem faz sentido, mas a forma como está sendo conduzida evidencia a acomodação burocrática e conservadora da máquina petista. O partido, que em outra época valorizou a participação de seus filiados nas escolhas programáticas e eleitorais, comporta-se atualmente como um rebanho, a seguir os desígnios de seu todo-poderoso pastor.


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