São Paulo, quinta-feira, 03 de novembro de 2011

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Na vanguarda da pesquisa em transgênicos

CÂNDIDO VACCAREZZA


Organismos geneticamente modificados permitem que a humanidade tenha mais uma ferramenta para ampliar o acesso a fármacos e vacinas

Uma variedade de feijão resistente ao vírus do mosaico dourado, desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), acaba de ser aprovado na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio).
Trata-se da primeira semente geneticamente modificada feita por pesquisadores brasileiros.
Essa experiência será fundamental para o desenvolvimento agrícola do Brasil, de países sul-americanos e africanos. Se atingir a lavoura no início do plantio, o vírus do mosaico dourado pode destruir 100% da plantação de feijão.
Segundo cálculos da Embrapa, entre 5 e 10 milhões de pessoas poderiam ser alimentadas com o que se perde pela ação desse vírus.
Mas essa não foi a única vitória da ciência e da pesquisa nacional em biotecnologia. No final de maio, a Embrapa anunciou a obtenção de plantas transgênicas de cana-de-açúcar tolerantes à seca.
As perdas de plantações de cana de açúcar em decorrência desse fenômeno meteorológico variam entre 10% e 50%.
Há algumas décadas, a biotecnologia vem desenvolvendo os chamados organismos geneticamente modificados -animais ou plantas que, por meio da inserção de genes de uma espécie para outra ou dentro da mesma espécie, transferem determinadas características.
Essa técnica permite a produção de biofármacos, plantas, vacinas e alimentos com melhor qualidade nutricional. Abriu-se, assim, a perspectiva de a humanidade ter mais uma ferramenta para combater a fome e também para ampliar o acesso de grande parte da população mundial aos fármacos e às vacinas.
Vários estudos, como o da Royal Society, do Reino Unido, uma das mais antigas e respeitadas entidades de pesquisa do mundo, mostram que não há evidências científicas de que seres humanos possam ser prejudicados por ingerir alimentos transgênicos.
Nenhum outro tipo de alimento tem sido tão detalhadamente pesquisado como os organismos geneticamente modificados.
Nos anos 1950, a "revolução verde" permitiu um salto de produtividade nos alimentos, com a utilização em larga escala da mecanização, de adubos químicos e defensivos agrícolas. Mas ela também provocou impactos ambientais e socioeconômicos que, somente depois de alguns anos, começaram a ser compreendidos e contornados.
Tais dificuldades estigmatizaram as novas descobertas como um cientificismo ingênuo, mas jamais colocaram na ordem do dia a volta aos tempos do arado movido a tração animal. As pesquisas que a Embrapa desenvolveu com plantas transgênicas do feijão e da cana-de-açúcar nos enchem de orgulho.
Além de ajudar a aumentar a segurança alimentar de milhões de brasileiros e a consolidar a nossa liderança na produção de etanol, elas nos colocam entre o seleto grupo de países que dominam a tecnologia de desenvolvimento de organismos geneticamente modificados.
Isso é fundamental para as pretensões do Brasil de disputar uma posição estratégica no mundo.

CÂNDIDO VACCAREZZA, médico, é deputado federal (PT-SP), líder do governo na Câmara dos Deputados e autor de projeto que estabelece normas de segurança e fiscalização dos organismos geneticamente modificados.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


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