São Paulo, terça-feira, 03 de dezembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Saudades de FHC

RIO DE JANEIRO - Em clima festivo, metade natalino, metade de despedida, o presidente FHC reuniu na semana passada o estado-maior de seu governo, agradeceu a todos e expressou mais uma vez o alto conceito que tem de si mesmo.
É evidente que é um ponto de vista pessoal. O Brasil não acabou durante os oito anos de seu mandato, e -verdade seja dita- a liturgia democrática foi obedecida, apesar do arranhão grosseiro da emenda que lhe deu um segundo mandato.
Há comentários, aqui e ali, de que sentiremos saudades de seu período presidencial. Machado de Assis dizia que tudo é possível. O governo de Lula pode ser tão desastroso que sentiremos falta realmente da gestão tucana. O apressado balanço feito por FHC de seu governo, embora reconhecendo alguns erros e equívocos, foi altamente positivo. O carro-chefe, a estabilidade financeira, teve um custo que o presidente omitiu.
E, além do custo (paridade cambial macetada, desemprego, salários achatados e taxa de crescimento ridícula), a mágica que valorizou e estabilizou o real está sendo desmascarada pelo surto inflacionário, que já atingiu os dois dígitos, mostrando que a grande obra de FHC - controle da inflação- teve caráter efêmero, não chegou a ser uma obra, mas um artifício de contabilidade. Não foi uma realização, mas um faz-de-conta emergencial, impossível de ser considerado uma conquista permanente, uma nova maneira de se viver num país chamado Brasil.
No final de seu segundo mandato, criou-se o consenso do governo paralelo, que não é a equipe que Lula está trazendo, mas a do crime, que, ao lado da concentração de renda e da falência de órgãos múltiplos, como a Previdência, a saúde e a educação, teve como consequência a vitória da oposição.
De FHC guardaremos a lembrança de sua simpatia pessoal, de seu bom humor e de seu temperamento conciliador, que nos poderia ter dado motivo para a saudade.


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