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CARLOS HEITOR CONY
Saudades de FHC
RIO DE JANEIRO - Em clima festivo, metade natalino, metade de despedida, o presidente FHC reuniu na semana passada o estado-maior de seu
governo, agradeceu a todos e expressou mais uma vez o alto conceito que
tem de si mesmo.
É evidente que é um ponto de vista
pessoal. O Brasil não acabou durante
os oito anos de seu mandato, e -verdade seja dita- a liturgia democrática foi obedecida, apesar do arranhão grosseiro da emenda que lhe
deu um segundo mandato.
Há comentários, aqui e ali, de que
sentiremos saudades de seu período
presidencial. Machado de Assis dizia
que tudo é possível. O governo de Lula pode ser tão desastroso que sentiremos falta realmente da gestão tucana. O apressado balanço feito por
FHC de seu governo, embora reconhecendo alguns erros e equívocos,
foi altamente positivo. O carro-chefe,
a estabilidade financeira, teve um
custo que o presidente omitiu.
E, além do custo (paridade cambial
macetada, desemprego, salários
achatados e taxa de crescimento ridícula), a mágica que valorizou e estabilizou o real está sendo desmascarada pelo surto inflacionário, que já
atingiu os dois dígitos, mostrando
que a grande obra de FHC - controle da inflação- teve caráter efêmero,
não chegou a ser uma obra, mas um
artifício de contabilidade. Não foi
uma realização, mas um faz-de-conta emergencial, impossível de ser considerado uma conquista permanente, uma nova maneira de se viver
num país chamado Brasil.
No final de seu segundo mandato,
criou-se o consenso do governo paralelo, que não é a equipe que Lula está
trazendo, mas a do crime, que, ao lado da concentração de renda e da falência de órgãos múltiplos, como a
Previdência, a saúde e a educação,
teve como consequência a vitória da
oposição.
De FHC guardaremos a lembrança
de sua simpatia pessoal, de seu bom
humor e de seu temperamento conciliador, que nos poderia ter dado motivo para a saudade.
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