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CLÓVIS ROSSI
Um risco na democracia
SÃO PAULO - É claro que é melhor ver o risco Brasil caindo do que subindo. Mas não se iluda, meu caro, a
queda não vai resolver um só dos
problemas da pátria.
Ao contrário, até serve para pôr em
evidência um problema político-institucional muito grave.
Aos fatos: o risco-país é, no fundo,
um habeas corpus preventivo que os
investidores adotam, em seu próprio
benefício, para a hipótese de calote.
Ou seja, cobram caro, preventivamente, com o que, se calote houver, já
terão garantido todo o retorno necessário. Se não houver, melhor. Continuam faturando à tripa forra.
O risco Brasil subiu por puro terrorismo dos mercados financeiros (lembra-se do "ou Serra ou o caos", do
megainvestidor George Soros, em
meados do ano passado?).
Começou a cair a partir do momento em que os agentes financeiros decidiram que, apesar de não ter dado
Serra, também não deu o caos.
Mas trata-se de uma avaliação puramente política, porque a medida
econômica do risco de calote deveria
ter puxado para cima, e não para
baixo, o risco Brasil.
O que determina a maior ou a menor possibilidade de um país deixar
de pagar sua dívida é a relação entre
ela e o tamanho da economia (o PIB,
Produto Interno Bruto).
Muito bem: essa relação era de
56,6% quando FHC passou a faixa a
Lula. Hoje é de 57,8%. Qualquer botequim cuja dívida aumenta como
proporção de seus ativos é considerado de maior risco, não de menor.
No botequim Brasil, deu-se o contrário, porque os agentes financeiros
conseguiram anular uma regra de
ouro da democracia, que é a possibilidade de alternância no poder. No
Brasil, deu-se a alternância de caras,
não de política econômica.
O mercado entendeu que "domesticou" a sua antiga besta-fera que
atendia pelo nome de PT. Virou lulu.
Já não oferece risco.
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