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São Paulo, quarta-feira, 03 de dezembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Um risco na democracia

SÃO PAULO - É claro que é melhor ver o risco Brasil caindo do que subindo. Mas não se iluda, meu caro, a queda não vai resolver um só dos problemas da pátria.
Ao contrário, até serve para pôr em evidência um problema político-institucional muito grave.
Aos fatos: o risco-país é, no fundo, um habeas corpus preventivo que os investidores adotam, em seu próprio benefício, para a hipótese de calote. Ou seja, cobram caro, preventivamente, com o que, se calote houver, já terão garantido todo o retorno necessário. Se não houver, melhor. Continuam faturando à tripa forra.
O risco Brasil subiu por puro terrorismo dos mercados financeiros (lembra-se do "ou Serra ou o caos", do megainvestidor George Soros, em meados do ano passado?).
Começou a cair a partir do momento em que os agentes financeiros decidiram que, apesar de não ter dado Serra, também não deu o caos.
Mas trata-se de uma avaliação puramente política, porque a medida econômica do risco de calote deveria ter puxado para cima, e não para baixo, o risco Brasil.
O que determina a maior ou a menor possibilidade de um país deixar de pagar sua dívida é a relação entre ela e o tamanho da economia (o PIB, Produto Interno Bruto).
Muito bem: essa relação era de 56,6% quando FHC passou a faixa a Lula. Hoje é de 57,8%. Qualquer botequim cuja dívida aumenta como proporção de seus ativos é considerado de maior risco, não de menor.
No botequim Brasil, deu-se o contrário, porque os agentes financeiros conseguiram anular uma regra de ouro da democracia, que é a possibilidade de alternância no poder. No Brasil, deu-se a alternância de caras, não de política econômica.
O mercado entendeu que "domesticou" a sua antiga besta-fera que atendia pelo nome de PT. Virou lulu. Já não oferece risco.


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