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Partido de programa
Em cerimônia de adesão ao governo Lula, lideranças do PMDB destilam pérolas de eufemismo e hipocrisia
PARECIA até um partido sólido, programático e organizado. Poucas vezes a
fisiologia e a circunstância se cobriram de tamanha
pompa e teatralidade como na
cerimônia que formalizou o
apoio do PMDB ao governo Lula,
realizada em Brasília na quinta-feira passada.
Algumas frases pronunciadas
nesse encontro mereceriam
constar de uma antologia, ainda
a ser feita, do talento brasileiro
para o circunlóquio bacharelesco e para os artifícios da cosmética política.
Um dos mais imaginativos especialistas nesse campo, o deputado Michel Temer, considerou
aceitável para a opinião pública a
tese de que a adesão a Lula se dava em torno de uma lista de propostas de governo -em número
de sete, para ser preciso. "Nosso
compromisso é com esses princípios programáticos. Se forem
adiante, nosso compromisso
prosseguirá", afirmou o presidente do PMDB.
Seriam entretanto seis, e não
sete, os itens realmente em pauta. Destes, três são conhecidos de
longa data: atendem pelo nome
de Ministério da Saúde, Ministério das Comunicações e Ministério das Minas e Energia -pastas
que, sem nenhuma discussão
programática, o PMDB já vinha
ocupando no governo anterior.
Quanto aos demais, as negociações se encontram em aberto.
A questão dos cargos, observou
com suavidade Michel Temer, "é
uma simples expectativa". Coube entretanto ao presidente do
Senado, Renan Calheiros, a formulação mais abstrata e elegante
do problema: "Trata-se de integrar o partido ao governo".
Integração talvez efêmera, como diz um dos poucos peemedebistas que dela discordam, o senador eleito Jarbas Vasconcelos.
Prevê que dentro de seis meses
surgirão os primeiros atritos,
quando se perceber que o espaço
no governo "não vai dar para todo mundo".
Seis meses seriam, de qualquer
modo, suficientes para que o Planalto conseguisse aprovar no
Congresso os principais pontos
de sua agenda para os próximos
anos -caso essa agenda existisse. Lula foi reeleito, todavia, sem
que tivesse apresentado nenhuma idéia concreta para o seu futuro mandato, e a coreografia
peemedebista em torno de supostos compromissos doutrinários nada mais faz do que repetir,
em grande estilo, aquilo que se
presenciou na própria campanha sucessória.
Milhões de miseráveis beneficiaram-se, nos últimos anos, do
Bolsa Família; a fome peemedebista haverá de ser saciada, contudo, a mais alto preço -e por
tempo bem mais curto.
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