São Paulo, quarta-feira, 03 de dezembro de 2008

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Queda brusca

Recuo expressivo da produção industrial mostra que a crise já atinge a economia de forma ampla

PESQUISA divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que a produção industrial brasileira já registra retração em todos os segmentos. A queda no ritmo da atividade fabril foi de 1,7% em outubro com relação a setembro, a maior baixa desde novembro do ano passado.
A retração foi mais acentuada nos bens de consumo duráveis, cuja produção caiu 4,7%. A contração atingiu também o setor de bens semiduráveis e não-duráveis, como bebidas e têxteis. O nível da atividade nos bens intermediários -insumos, peças e componentes- recuou 3%.
Os bens de capital -aqueles usados para a elaboração de outros produtos- foram os que menos sofreram, com um recuo de apenas 0,5%. Esse resultado, menos desfavorável, é um dos raros indicadores positivos da pesquisa, pois está associado à manutenção de investimentos.
Assim, ao contrário do que muitos imaginavam, o impacto da crise internacional e da retração do crédito sobre a indústria nacional foi generalizado. Não se restringiu a setores que sofreriam mais diretamente os efeitos adversos da crise de confiança e da desvalorização de ativos financeiros globais.
O recuo de outubro não pode ser explicado apenas pela cautela. Empresas de diferentes setores concederam férias coletivas, mas também ocorreram pausas não programadas.
Os dados da indústria automobilística de novembro confirmam a desaceleração de forma mais severa. As vendas de veículos novos recuaram 25%, a despeito das linhas de crédito de até R$ 8 bilhões disponibilizadas pelo Banco do Brasil e pela Nossa Caixa. O cenário é de desaquecimento das vendas e de concessão das férias coletivas. Uma grande montadora já anunciou a primeira leva de demissões.
Ainda assim, os índices brasileiros não apresentam a mesma gravidade que se verifica na economia americana. Ontem, a GM norte-americana divulgou que teve uma queda de 41% no número de unidades vendidas em novembro, em relação ao mesmo mês de 2007.
No Brasil, em contraste, ainda houve crescimento na produção industrial de 0,8% em relação a outubro de 2007. No ano, até outubro, a expansão acumulada foi de 5,8%. Em 12 meses, o acréscimo ficou em 5,9%.
São taxas positivas, ainda que em desaceleração e inferiores às apuradas em setembro. Mostram o alcance parcial das medidas preventivas anunciadas pela equipe econômica a fim de conter a crise que se aprofunda desde setembro. Ainda assim, medidas relacionadas ao mercado de câmbio não evitaram a aguda e persistente desvalorização do real. Continua a forte contração dos empréstimos, com elevação de custos e redução de prazos.
Diante de um horizonte pior que o previsto, as autoridades precisam adotar medidas mais eficazes. Os gastos correntes do setor público devem ser reduzidos, permitindo a manutenção dos investimentos. Na reunião do Copom da próxima semana, o mínimo a esperar é que o BC mantenha a taxa básica de juros.


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