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Queda brusca
Recuo expressivo da produção industrial mostra que a crise já atinge a economia
de forma ampla
PESQUISA divulgada ontem
pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística
(IBGE) aponta que a produção industrial brasileira já registra retração em todos os segmentos. A queda no ritmo da atividade fabril foi de 1,7% em outubro com relação a setembro, a
maior baixa desde novembro do
ano passado.
A retração foi mais acentuada
nos bens de consumo duráveis,
cuja produção caiu 4,7%. A contração atingiu também o setor de
bens semiduráveis e não-duráveis, como bebidas e têxteis. O
nível da atividade nos bens intermediários -insumos, peças e
componentes- recuou 3%.
Os bens de capital -aqueles
usados para a elaboração de outros produtos- foram os que
menos sofreram, com um recuo
de apenas 0,5%. Esse resultado,
menos desfavorável, é um dos raros indicadores positivos da pesquisa, pois está associado à manutenção de investimentos.
Assim, ao contrário do que
muitos imaginavam, o impacto
da crise internacional e da retração do crédito sobre a indústria
nacional foi generalizado. Não se
restringiu a setores que sofreriam mais diretamente os efeitos
adversos da crise de confiança e
da desvalorização de ativos financeiros globais.
O recuo de outubro não pode
ser explicado apenas pela cautela. Empresas de diferentes setores concederam férias coletivas,
mas também ocorreram pausas
não programadas.
Os dados da indústria automobilística de novembro confirmam a desaceleração de forma
mais severa. As vendas de veículos novos recuaram 25%, a despeito das linhas de crédito de até
R$ 8 bilhões disponibilizadas pelo Banco do Brasil e pela Nossa
Caixa. O cenário é de desaquecimento das vendas e de concessão
das férias coletivas. Uma grande
montadora já anunciou a primeira leva de demissões.
Ainda assim, os índices brasileiros não apresentam a mesma
gravidade que se verifica na economia americana. Ontem, a GM
norte-americana divulgou que
teve uma queda de 41% no número de unidades vendidas em
novembro, em relação ao mesmo
mês de 2007.
No Brasil, em contraste, ainda
houve crescimento na produção
industrial de 0,8% em relação a
outubro de 2007. No ano, até outubro, a expansão acumulada foi
de 5,8%. Em 12 meses, o acréscimo ficou em 5,9%.
São taxas positivas, ainda que
em desaceleração e inferiores às
apuradas em setembro. Mostram o alcance parcial das medidas preventivas anunciadas pela
equipe econômica a fim de conter a crise que se aprofunda desde setembro. Ainda assim, medidas relacionadas ao mercado de
câmbio não evitaram a aguda e
persistente desvalorização do
real. Continua a forte contração
dos empréstimos, com elevação
de custos e redução de prazos.
Diante de um horizonte pior
que o previsto, as autoridades
precisam adotar medidas mais
eficazes. Os gastos correntes do
setor público devem ser reduzidos, permitindo a manutenção
dos investimentos. Na reunião
do Copom da próxima semana, o
mínimo a esperar é que o BC
mantenha a taxa básica de juros.
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