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CLÓVIS ROSSI
Éramos infelizes e não sabíamos
SÃO PAULO - Quer dizer, então,
que os Estados Unidos estavam em
recessão desde dezembro de 2007,
mas só descobriram em dezembro
de 2008? Não é sério. O pior é que
todo mundo, inclusive os jornalistas, emprestamos ar de ciência a esse ritual de mandingas.
Recapitule comigo: o que se sabia,
até anteontem, é que a economia
norte-americana havia crescido até
o fim do primeiro semestre, de
acordo com os dados oficiais, o-f-i-c-i-a-i-s, repito.
Mesmo nestes tempos de derivativos, o primeiro semestre de 2008
vem depois de dezembro de 2007.
Vinha, posto que agora aparece um
tal de NBER (Escritório Nacional
de Pesquisa Econômica) e jura que
os Estados Unidos estão em recessão desde dezembro de 2007.
Da mesma forma que todo o
mundo, inclusive os jornalistas,
acreditamos que os EUA haviam
crescido no primeiro semestre,
agora acreditamos no NBER e
anunciamos que os EUA não cresceram. Ao contrário, retrocederam.
Por que o NBER é mais oráculo
oficial que os outros oráculos oficiais? Porque, dizem, leva em conta
dados como desemprego, produção
industrial, receita e vendas de indústria e comércio. Santo Deus, esses dados são todos públicos, qualquer um que saiba somar um mais
um não precisa de um ano para determinar o estado de uma dada
economia.
Posto de outra forma: é como encontrar um cidadão sangrando no
asfalto um ano inteiro. Aí vem o tal
NBER e diz "é, está sangrando". Só
então o mundo vê a hemorragia?
Pior: o tal mercado usa a constatação "oficial" para sair vendendo
ações e derrubando as Bolsas, conforme a "explicação" do dia para as
quedas, apesar de a Bolsa ter subido
uns dias antes, mesmo quando todos sabiam que o desemprego aumentara, a produção industrial caíra e indústria e comércio vendiam
menos.
Quiromantes fariam melhor.
crossi@uol.com.br
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