São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Oportunidades para os líderes do futuro

DONNA J. HRINAK


As relações entre o Brasil e os Estados Unidos não se limitam ao intercâmbio de produtos e às negociações comerciais

A diplomacia é uma experiência realmente gratificante por causa das oportunidades de marcar o relacionamento bilateral por transformações positivas. Em meus quase dois anos como Embaixadora dos EUA no Brasil, tenho me dedicado a estimular o diálogo e o entendimento mútuo nas mais diferentes áreas. Mas há uma área da qual me orgulho muito e para a qual eu gostaria de chamar a atenção: o trabalho com jovens brasileiros, um programa chamado Jovens Embaixadores.
Através desse programa, criado pela embaixada dos EUA em 2002, oferecemos intercâmbio nos EUA para alunos que se destacam nas redes particular e pública de ensino e que, sem ajuda financeira, jamais teriam como viajar para o exterior ou participar de um programa de intercâmbio cultural internacional. Buscamos, assim, ampliar os horizontes desses jovens, abrir-lhes as portas do mundo e estimulá-los a sempre buscarem conhecimento. Ao terem sua ânsia de "desbravar" o mundo inicialmente concretizada, esses meninos e meninas acabam por servir de estímulo e modelo para seus colegas e para outros jovens brasileiros.
Os 12 "jovens embaixadores" que participaram dessa iniciativa pioneira em 2002 tiveram suas vidas transformadas. Apenas um deles já havia viajado de avião e muitos jamais haviam saído do seu Estado. Durante três semanas, eles conheceram outra sociedade e cultura, visitaram órgãos do governo, museus, escolas, conviveram com uma família norte-americana e viram neve pela primeira vez. E, assim como fazem os verdadeiros embaixadores, falaram sobre o Brasil e o que o torna um país único, interessante e cheio de oportunidades.
Segundo o "jovem embaixador" Alex Biffi, de São José dos Campos, a "coroação antecipada" da viagem foi uma reunião com o secretário de Estado Colin Powell, que não apenas os recebeu, como conversou com eles por 45 minutos, e não pelos 15 minutos originalmente agendados. "Desnecessário comentar sobre nossa alegria e nervosismo! Ele foi muito amigável e simpático. Falou um pouco sobre a [então] recente visita do Lula e disse que dará todo o apoio que ele precisar. Conversamos depois sobre a educação brasileira, assunto que despertou seu interesse. Depois de tudo ele ainda nos levou até o escritório particular dele! Somente chefes de Estado entram lá!", escreveu Alex.
Ao retornarem às suas cidades e escolas no Brasil, os garotos trouxeram consigo outra visão de mundo e de si próprios. Alguns se tornaram voluntários, atividade fortemente presente na cultura do meu país. Outros continuam seu trabalho como "embaixadores" em outros programas de intercâmbio. Bruna Amaral, de Porto Alegre, por exemplo, tornou-se voluntária em projetos sociais, hospedou um estudante norte-americano em sua casa e agora encontra-se na Alemanha, participando de seu segundo programa de intercâmbio.
O Alex foi selecionado em um segundo concurso, dessa vez patrocinado pelo governo brasileiro. Em breve ele e cinco outros estudantes representarão o Brasil em uma missão na Argentina para discutir com jovens de outras partes da América do Sul a questão da integração das Américas e do Mercosul.
O primeiro programa Jovens Embaixadores abriu portas para os nossos pioneiros. O seu sucesso me animou a continuar e aumentar o programa junto com parceiros tais como a Comissão Fulbright, a Delta Airlines e a organização internacional Companheiros das Américas. São 20 estudantes e cinco professores, todos sem nenhuma experiência no exterior, que se preparam para viajar aos EUA neste mês.
Em apenas um ano de existência do programa, conseguimos dobrar o número de bolsas e esperamos poder aumentá-lo a cada ano. Nos próximos anos esperamos poder contar com mais parceiros para que, além de proporcionarmos essa experiência a um número cada vez maior de jovens brasileiros, possamos trazer grupos de estudantes com perfil semelhante dos EUA ao Brasil, para conhecerem este belíssimo país, seu povo e sua cultura.
Ao mencionar esse programa, quero mostrar que as relações entre o Brasil e os EUA não se limitam ao intercâmbio de produtos e às negociações comerciais. Existe, além disso tudo, uma rica cooperação e intercâmbio de pessoas, experiências, oportunidades e idéias nos mais variados níveis e áreas do conhecimento. Foi com esse espírito que criamos esse programa de intercâmbio.
Sem dúvida, o grande desafio e oportunidade do século 21 está na preparação de jovens para o futuro. Rápidos avanços tecnológicos, uma economia global cada vez mais interdependente e a contínua mudança social marcarão suas vidas. Para acompanhar esse processo com oportunidades de mobilidade e ascensão, as ferramentas mais importantes na vida desses jovens são a educação, a cultura e o conhecimento.
O escritor norte-americano Mark Twain escreveu uma vez que é no brilho dos olhos de um adolescente que podemos capturar toda a essência do mundo. E isso no tempo em que subir num vagão de trem era o máximo que um jovem poderia imaginar fazer para conhecer o mundo! Por meio de iniciativas como essas buscamos contribuir para que cada vez mais jovens possam capturar a essência do mundo em seus olhos.


Donna J. Hrinak, 52, é embaixadora dos EUA no Brasil. Foi embaixadora na Bolívia (1998-2000) e na República Dominicana (1994-1997).


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