São Paulo, segunda, 4 de janeiro de 1999

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CRIMES SEM CASTIGO

Na coleção das grandes falcatruas ocorridas nas duas últimas décadas no país, são poucas as punições, como se culpados quase não houvesse. Muitas das fraudes e negociatas envolveram altas autoridades da República; algumas foram armadas para atingir reputações. Mas o grave é que, passados anos, com o arrefecimento das acusações, quase não há como distinguir quais são os gatos pardos na noite da política brasileira.
Cada um dos escândalos, reunidos por reportagem desta Folha, pode ser relembrado sem muito esforço por alguma alcunha: o superfaturamento da rodovia Norte-Sul, o caso Collor, a morte de PC, o esquema Paubrasil etc. Infelizmente, a notoriedade quase nunca foi suficiente para que se chegasse ao deslinde completo dos casos. Do atentado do Riocentro, em 81, até a compra de votos para a emenda da reeleição, em 98, há traços comuns. Ou se abortou a chance de punição com o arquivamento dos inquéritos ou se "solucionaram" as denúncias com o arquivamento do processo em curso.
Há ainda os casos de falta de provas. Em muitos deles, verifica-se a ligação estreita entre disputa eleitoral e permanência no poder com o patrocínio da corrupção. Em poucos, a solução ainda depende da decisão sobre questões processuais, como no episódio da propina supostamente recebida pelo ex-ministro Antônio Magri, na denúncia de estelionato no governo Orestes Quércia e no caso Paubrasil, envolvendo Maluf, para ficar apenas em alguns exemplos.
Permanecerá insolúvel o escândalo da compra de votos para aprovar a emenda da reeleição. Não houve punição e não há investigação em curso. Os deputados governistas inviabilizaram a instalação de uma CPI.
Vistos em conjunto -e apesar de avanços circunstanciais-, esses casos justificam a idéia feita de que o Brasil ainda é, lamentavelmente, um país maculado pela corrupção e, pior, conivente com a impunidade.



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