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CRIMES SEM CASTIGO
Na coleção das grandes falcatruas
ocorridas nas duas últimas décadas
no país, são poucas as punições, como se culpados quase não houvesse.
Muitas das fraudes e negociatas envolveram altas autoridades da República; algumas foram armadas para
atingir reputações. Mas o grave é
que, passados anos, com o arrefecimento das acusações, quase não há
como distinguir quais são os gatos
pardos na noite da política brasileira.
Cada um dos escândalos, reunidos
por reportagem desta Folha, pode
ser relembrado sem muito esforço
por alguma alcunha: o superfaturamento da rodovia Norte-Sul, o caso
Collor, a morte de PC, o esquema
Paubrasil etc. Infelizmente, a notoriedade quase nunca foi suficiente
para que se chegasse ao deslinde
completo dos casos. Do atentado do
Riocentro, em 81, até a compra de votos para a emenda da reeleição, em
98, há traços comuns. Ou se abortou
a chance de punição com o arquivamento dos inquéritos ou se "solucionaram" as denúncias com o arquivamento do processo em curso.
Há ainda os casos de falta de provas. Em muitos deles, verifica-se a ligação estreita entre disputa eleitoral
e permanência no poder com o patrocínio da corrupção. Em poucos, a
solução ainda depende da decisão
sobre questões processuais, como
no episódio da propina supostamente recebida pelo ex-ministro Antônio
Magri, na denúncia de estelionato no
governo Orestes Quércia e no caso
Paubrasil, envolvendo Maluf, para ficar apenas em alguns exemplos.
Permanecerá insolúvel o escândalo
da compra de votos para aprovar a
emenda da reeleição. Não houve punição e não há investigação em curso. Os deputados governistas inviabilizaram a instalação de uma CPI.
Vistos em conjunto -e apesar de
avanços circunstanciais-, esses casos justificam a idéia feita de que o
Brasil ainda é, lamentavelmente, um
país maculado pela corrupção e,
pior, conivente com a impunidade.
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