São Paulo, segunda, 4 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O Brasil vai mal, muito mal

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Está péssima a imagem do Brasil entre os investidores estrangeiros. A prova é o preço pago pelos papéis brasileiros em Nova York.
O exemplo mais gritante é o título do governo federal do Brasil conhecido como Global ou Rep 27 -"Rep" de República. Trata-se de um papel lançado em 97, com prazo de 30 anos.
O Rep 27 não é pouca coisa. É garantido pelo governo do Brasil. Paga 10,125% de juros por ano, em dólar. É uma ótima aplicação (se o Brasil não falir), pois o juro anual nos EUA está em torno de 5%.
Países cucarachas como o Brasil emitiram papéis similares. A Argentina tem um título com nome idêntico, Rep 27. O México lançou o seu em 1996, o UMS 26.
Agora, a realidade.
Há um ano, em 31 de dezembro de 97, era possível adquirir um Rep 27 da Argentina por 99,20% do seu valor de face. O do Brasil custava 95,30% do valor impresso. No caso do México, havia ágio: especuladores pagavam até 105,75% do valor.
Ou seja, há um ano a situação era mais ou menos parecida para Argentina, Brasil e México. Com uma leve desvantagem para o Brasil.
Hoje, tudo mudou.
Em 31 de dezembro de 98, na quinta-feira passada, o título do México estava sendo vendido em Nova York com um ágio ainda maior do que há um ano: 107% do valor de face.
No caso da Argentina, houve uma queda razoável na cotação do seu papel mais nobre. O Rep 27 argentino era vendido a 90,25% do seu valor.
Para o Brasil, uma catástrofe. O Rep 27 lançado pelo governo FHC despencou para apenas 68% do seu valor.
Em resumo: enquanto o papel do México teve a cotação elevada e o da Argentina caiu pouco, o brasileiro entrou em queda livre em 98 -apesar da reeleição de FHC e do minipacote fiscal de Pedro Malan.
Ainda assim, resta uma esperança. Tudo isso aconteceu antes do animadíssimo discurso de posse de FHC. Quem sabe agora os especuladores mudem de opinião sobre o Brasil.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.