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Collor e FHC
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Dois furibundos editoriais da grande imprensa, semana
passada, cobraram imediata e enérgica punição dos grampeadores dos telefones do BNDES. A cólera é tamanha
que nem um estuprador de criancinhas, um violador de freiras, um comedor de carnes vermelhas podem se
equiparar, em iniquidade, aos criminosos que ouviram os telefonemas do
sr. Mendonça de Barros.
Tem mais: em fevereiro, como sói
acontecer, haverá Carnaval, como
sempre, e, para orgasmo suplementar
do governo, a readmissão do mesmo
sr. Mendonça de Barros aos altos escalões. Pois em fevereiro já estará tudo
resolvido e esquecido (que diabo, por
que a solução do caso já tem data
marcada?).
Bem, ninguém puniu os grampeadores do ex-ministro Magri. Pelo contrário: foram louvados por livrar a nação
de um funcionário que se vendeu por
míseros trinta dinheiros.
Daí que fico pensando na identidade
entre os governos Collor e FHC. O que
difere um do outro é que o primeiro
desagradou ao verdadeiro poder, que
não vem do povo, mas do antipovo.
Foi montada, então, a colossal campanha pelo impeachment, que tinha
realmente todas as motivações para
dar no que deu.
No bojo do atual governo, as coisas
parecem iguais ou piores. Apenas o
verdadeiro poder ainda o apóia, com
menos entusiasmo, é certo, enquanto
aguarda uma alternativa que está difícil de ser encontrada -tantas e tamanhas são as qualidades de FHC em
atender aos reclamos do poder que ele
representa, mas não expressa.
Sacudiram a árvore do governo Collor, os frutos podres caíram e, com
eles, o próprio Collor. Ressabiados pelo precedente, os detentores do verdadeiro poder evitam sacudir a árvore
do governo FHC. Somente os maus
brasileiros tentam sacudir essa árvore.
Os frutos que caem, apesar de podres,
fazem quarentena e voltam para o galho, até que um novo leilão dê galho
novamente.
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