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São Paulo, terça-feira, 04 de fevereiro de 2003

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DESASTRE ESPACIAL

O desastre com o ônibus espacial Columbia, que custou a vida de seus sete tripulantes, apanha os EUA num momento especialmente delicado, em que o país trava a chamada guerra contra o terror e se prepara para invadir o Iraque. O acidente de sábado não basta para alterar os planos bélicos de Washington, mas afeta, ainda que de modo limitado, o moral norte-americano num aspecto vital também para a guerra: a supremacia tecnológica.
O golpe é principalmente simbólico. Diz respeito à auto-imagem dos americanos. A superioridade dos EUA no campo aeroespacial, civil ou militar, permanece incontestável.
Ainda é cedo para fechar diagnósticos sobre as causas da desintegração, mas os primeiros indícios sugerem que uma falha no lançamento pode ter danificado as pastilhas de proteção térmica, que são fundamentais para impedir que o calor destrua a nave ao voltar para a atmosfera. Confirmada essa hipótese, as falhas, mais do que técnicas, estariam na cultura de segurança da Nasa, que, segundo seus críticos, vinha sendo paulatinamente relaxada.
Cortes de despesas, com demissão de pessoal, e excesso de terceirizações vêm sendo incluídos nas listas de fatores que podem ter contribuído para a tragédia. A idade avançada da frota de ônibus espaciais, também. O Columbia havia voado pela primeira vez 22 anos atrás.
Os mais críticos chegam a questionar a concepção dos ônibus espaciais (um design dos anos 70) e o conceito de missões espaciais tripuladas. Afirmam que não há sentido em mandar pessoas para missões arriscadas no espaço quando se podem obter quase os mesmos resultados científicos com o envio de sondas, que ainda têm a vantagem de custar significativamente menos.
No fundo, o que acaba justificando as missões tripuladas, além do poderoso marketing da Nasa, é a idéia, romântica, de que o homem vai desbravar o espaço sideral. Não há nada de errado com essa idéia, desde que se esteja disposto a pagar o preço da aventura. Em dólares e em vidas.


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