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DESASTRE ESPACIAL
O desastre com o ônibus espacial Columbia, que custou a
vida de seus sete tripulantes, apanha
os EUA num momento especialmente delicado, em que o país trava a
chamada guerra contra o terror e se
prepara para invadir o Iraque. O acidente de sábado não basta para alterar os planos bélicos de Washington,
mas afeta, ainda que de modo limitado, o moral norte-americano num
aspecto vital também para a guerra: a
supremacia tecnológica.
O golpe é principalmente simbólico. Diz respeito à auto-imagem dos
americanos. A superioridade dos
EUA no campo aeroespacial, civil ou
militar, permanece incontestável.
Ainda é cedo para fechar diagnósticos sobre as causas da desintegração, mas os primeiros indícios sugerem que uma falha no lançamento
pode ter danificado as pastilhas de
proteção térmica, que são fundamentais para impedir que o calor
destrua a nave ao voltar para a atmosfera. Confirmada essa hipótese, as
falhas, mais do que técnicas, estariam na cultura de segurança da Nasa, que, segundo seus críticos, vinha
sendo paulatinamente relaxada.
Cortes de despesas, com demissão
de pessoal, e excesso de terceirizações vêm sendo incluídos nas listas
de fatores que podem ter contribuído
para a tragédia. A idade avançada da
frota de ônibus espaciais, também.
O Columbia havia voado pela primeira vez 22 anos atrás.
Os mais críticos chegam a questionar a concepção dos ônibus espaciais (um design dos anos 70) e o
conceito de missões espaciais tripuladas. Afirmam que não há sentido
em mandar pessoas para missões arriscadas no espaço quando se podem obter quase os mesmos resultados científicos com o envio de sondas, que ainda têm a vantagem de custar significativamente menos.
No fundo, o que acaba justificando
as missões tripuladas, além do poderoso marketing da Nasa, é a idéia, romântica, de que o homem vai desbravar o espaço sideral. Não há nada
de errado com essa idéia, desde que
se esteja disposto a pagar o preço da
aventura. Em dólares e em vidas.
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