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ELIANE CANTANHÊDE
Guerra em família
BRASÍLIA - Em vez de ficar falando mal da imprensa e reclamando de
jornalistas que criticam o amadorismo do primeiro mês do mandato de
Lula, o governo deveria olhar para
dentro da sua própria casa: o PT.
José Dirceu fez das tripas coração
para articular uma paz interna no
PMDB que permitisse a eleição de José Sarney para a presidência do Senado e do petista João Paulo Cunha
para a da Câmara. Está na hora de o
PMDB lulista cobrar: "E aí? Nós seguramos os nossos radicais. Quando vocês vão segurar os seus?".
Dirceu e o presidente do PT, José
Genoino, há anos se digladiam com
os radicais para definir o comando
partidário e os rumos petistas no
Congresso e no Brasil. Mas parece
que andam perdendo a guerra, agora
que chegaram ao poder federal.
Jornalistas criticarem governos é o
que se pode chamar de trivial. Está
na essência da relação entre os dois.
A mesma imprensa acusada de "petista" pelos tucanos durante o governo FHC começa a ser chamada de
"tucana" pelos petistas. É da vida.
Muito mais divertido é: 1) Heloísa
Helena não aparecer para votar em
Sarney, avisando que não apóia as
"oligarquias" que o PT sempre combateu; 2) um deputado petista gravar
uma reunião fechada com o ministro
Palocci, como faria contra um ministro de FHC; 3) a fila de deputados e
senadores que criticam desde a política econômica até a reforma da Previdência do "seu" governo.
Petista e radical de longa tradição,
o jornalista e ex-deputado Milton Temer deixou a Câmara e começou ontem um programa diário de rádio, o
"Faixa Livre", da Bandeirante, batendo em Palocci e alisando o radical
Miguel Rossetto (Desenvolvimento
Agrário). À tarde, por telefone, Temer criticou a cúpula partidária: "O
Genoino é presidente do PT e não líder do governo no Congresso!".
Governos e jornalistas são de famílias diferentes, mas o governo Lula e
o PT são da mesmíssima família. E,
neste caso, não duvide: vai todo
mundo meter a colher na briga de
marido e mulher. Pior para Lula.
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