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São Paulo, terça-feira, 04 de fevereiro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Guerra em família

BRASÍLIA - Em vez de ficar falando mal da imprensa e reclamando de jornalistas que criticam o amadorismo do primeiro mês do mandato de Lula, o governo deveria olhar para dentro da sua própria casa: o PT.
José Dirceu fez das tripas coração para articular uma paz interna no PMDB que permitisse a eleição de José Sarney para a presidência do Senado e do petista João Paulo Cunha para a da Câmara. Está na hora de o PMDB lulista cobrar: "E aí? Nós seguramos os nossos radicais. Quando vocês vão segurar os seus?".
Dirceu e o presidente do PT, José Genoino, há anos se digladiam com os radicais para definir o comando partidário e os rumos petistas no Congresso e no Brasil. Mas parece que andam perdendo a guerra, agora que chegaram ao poder federal.
Jornalistas criticarem governos é o que se pode chamar de trivial. Está na essência da relação entre os dois. A mesma imprensa acusada de "petista" pelos tucanos durante o governo FHC começa a ser chamada de "tucana" pelos petistas. É da vida.
Muito mais divertido é: 1) Heloísa Helena não aparecer para votar em Sarney, avisando que não apóia as "oligarquias" que o PT sempre combateu; 2) um deputado petista gravar uma reunião fechada com o ministro Palocci, como faria contra um ministro de FHC; 3) a fila de deputados e senadores que criticam desde a política econômica até a reforma da Previdência do "seu" governo.
Petista e radical de longa tradição, o jornalista e ex-deputado Milton Temer deixou a Câmara e começou ontem um programa diário de rádio, o "Faixa Livre", da Bandeirante, batendo em Palocci e alisando o radical Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário). À tarde, por telefone, Temer criticou a cúpula partidária: "O Genoino é presidente do PT e não líder do governo no Congresso!".
Governos e jornalistas são de famílias diferentes, mas o governo Lula e o PT são da mesmíssima família. E, neste caso, não duvide: vai todo mundo meter a colher na briga de marido e mulher. Pior para Lula.


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