São Paulo, terça-feira, 04 de fevereiro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Nova legislatura, velha distorção
RUY ALTENFELDER
Para evitar equívocos, é importante deixar claro que o número de três senadores por unidade não entra nessa conta, pois o Senado é a representação política dos Estados. A Câmara, ao contrário, atua em nome da população. O número fixo de senadores garante a equidade de direito entre os Estados. A Constituição faz clara distinção entre as duas Casas do Congresso. Assim, há atribuições e prerrogativas de todo o Congresso, há aquelas privativas da Câmara e existem as da alçada exclusiva do Senado. Nesse aspecto, seria interessante rever algumas dessas atribuições. O Senado deveria ter competências exclusivas sobre questões pertinentes ao relacionamento jurídico e institucional entre Estados e União. Caberia à Câmara debater temas ligados aos interesses diretos da sociedade. É matéria jurídico-legislativa complexa, mas que terá de ser analisada em profundidade, para que o Parlamento possa estar estruturado e atuar próximo de um regime ideal. Prioritário, contudo, é estabelecer a justiça na proporcionalidade da representação das unidades federativas na Câmara, possibilitando que todo o povo exercite de forma equânime a sua legítima autoridade. Essa situação é análoga à verificada em clubes e instituições da sociedade civil, nos quais também não se observava a justiça na estrutura da representatividade. Eleições recentes em clubes, mesmo naqueles com milhares de associados, têm demonstrado como é nociva a ausência de proporcionalidade na representação política. Em algumas agremiações, prevalece um sistema de quase ditadura de grupos. Felizmente, o novo Código Civil corrigiu essa distorção nos clubes e entidades do gênero, estabelecendo eleições diretas, com o voto de todos os associados. Talvez esse avanço da sociedade civil sensibilize os parlamentares e o governo. É insensato impor à maioria o que é melhor para a minoria. A democracia afasta-se de sua essência à medida que o poder de legislar torna-se mais concentrado. Neste momento em que o Brasil deve avançar, solucionar seus problemas e participar de forma soberana da nova ordem econômica mundial, é preciso extirpar velhos equívocos políticos. E isso significa estabelecer com clareza e valorizar a autoridade dos cidadãos, em cujo exercício não pode haver quaisquer privilégios. Ruy Martins Altenfelder Silva, advogado, é presidente do Instituto Roberto Simonsen. Foi secretário da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado de São Paulo. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Betty Milan: Um novo estilo de governo Índice |
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