São Paulo, quarta-feira, 04 de fevereiro de 2004

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ATOS E PALAVRAS

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, veio a público ontem na tentativa de amainar as turbulências do mercado financeiro causadas pelo conteúdo da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) e pelas suspeitas de que o Fed (banco central dos EUA) pudesse voltar a subir os juros -hoje em 1% ao ano- mais rápido do que o previsto.
No que se refere ao BC, a desastrada decisão de interromper a trajetória de queda dos juros, trazendo à cena o fantasma da volta da inflação, desorganizou as expectativas e colocou em dúvida as perspectivas de crescimento para 2004. No tocante às especulações sobre os passos do Fed, embora analistas considerem provável que os juros continuem baixos até os últimos meses do ano, a reação dos investidores deixou claro o quanto pode ser arriscado apostar em fluxos de capitais financeiros incentivados por ciclos de liquidez internacional.
É verdade que essas ocasiões precisam ser aproveitadas naquilo que oferecem de positivo, mas sem ilusões. O sinal emitido nos últimos dias foi claro no sentido da necessidade de o país investir nos alicerces da economia real. É o foco na produção, na melhoria da infra-estrutura, no investimento e no emprego, bem como a consolidação de superávits comerciais e o aumento das reservas em divisas, o que poderá assegurar dias melhores ao país.
Por mais que o ministro queira sofismar, afirmando que, para crescer não basta reduzir os juros, não há nenhuma dúvida de que esse é um requisito imprescindível. A persistência das taxas nos atuais patamares é uma anomalia, uma evidência de desequilíbrio, uma barreira à passagem da lógica financista que tem tomado conta da economia brasileira para uma outra, baseada no imperativo do crescimento, da inclusão e da distribuição de renda.
O ministro Palocci ajudou a acalmar os ânimos do mercado, mas será preciso mais. É de esperar que suas declarações sobre o início, em 2004, de um "ciclo histórico de crescimento" não sejam um arroubo retórico, mas um objetivo a ser perseguido com atos -e não apenas com palavras sensatas


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