São Paulo, quarta-feira, 04 de fevereiro de 2004

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BOA NOTÍCIA

N uma rara boa notícia que vem do Oriente Médio, o premiê israelense, Ariel Sharon, disse que pretende acabar com os assentamentos judaicos na faixa de Gaza. Trata-se de um primeiro passo, ainda tímido, mas importante para a paz na região. É também uma atitude corajosa do premiê, pois a medida poderá levar ao rompimento da coalizão que sustenta seu governo.
O efeito da descolonização de Gaza é principalmente simbólico. Lá existem apenas cerca de 7.500 residentes judeus, contra os mais de 220 mil que vivem em assentamentos na Cisjordânia. Uma eventual desocupação de Gaza, embora não baste para estabelecer a paz entre israelenses e palestinos, poderia mostrar-se um sólido ponto de partida para um entendimento mais amplo. A base da negociação entre os dois lados segue sendo a "terra pela paz", isto é, a retirada dos colonos e das tropas israelenses e a fundação de um Estado palestino em troca do pleno reconhecimento de Israel e do fim dos ataques contra o Estado judeu.
A remoção dos assentamentos de Gaza é especialmente difícil para Sharon, pois ele foi um dos maiores incentivadores de sua fundação nos anos 70. O premiê, porém, vem recebendo intensas pressões dos EUA para resolver a questão das colônias e retomar o processo de paz. O risco de rompimento da coalizão é real, mas calculado. Partidos mais à direita podem de fato abandonar o governo, mas, nessa hipótese, são grandes as chances de os trabalhistas (oposição de centro-esquerda) voltarem a compor o gabinete.
O atual líder dos trabalhistas, Shimon Peres, já disse que apóia a remoção dos assentamentos de Gaza. Descartou, pelo momento, uma volta à coalizão, mas não a excluiu num futuro próximo, depois que o processo de retirada de fato começar.
Num contexto de sucessivos fracassos nas tentativas de retomar as conversações de paz, o novo passo de Sharon pode constituir-se no ingrediente que falta para reverter a deterioração do processo. No Oriente Médio, todo ceticismo nunca é demais, mas também não convém renunciar a todas as esperanças.


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