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Pacote antiacidente
No trânsito como em tantas outras esferas, o Brasil peca por leniência na hora de implementar leis que já existem
APERFEIÇOAMENTOS legislativos são sempre
bem-vindos. Assim,
não há como deixar de
apoiar algumas das medidas propostas pelo governo federal para
atualizar o Código de Trânsito
Brasileiro (CTB). É duvidoso,
porém, que mudanças na lei tenham o condão
de reduzir de
forma duradoura as mortes
provocadas por
acidentes automobilísticos.
Como em tantas outras esferas, o Brasil peca
não por ausência ou inadequação de normas,
mas por leniência ao implementá-las.
O próprio aumento dos óbitos
em desastres, com o qual o Planalto justifica a iniciativa, deve
ser matizado. O número de mortes em acidentes de transporte
cresceu de cerca de 30 mil em
1994 para 35 mil em 2006, segundo o "Mapa da violência dos
municípios brasileiros - 2008",
divulgado na semana passada.
Mas, quando se considera também o aumento populacional, a
taxa de óbitos por 100 mil habitantes cai discretamente, passando de 19,4 para 18,6.
A evolução da curva sugere que
a introdução do CTB, em 1998,
com punições mais duras para os
maus motoristas, levou a uma
importante redução das mortes.
O melhor momento ocorreu em
2000. A partir daí, os óbitos voltam a aumentar até 2005. Especialistas explicam o fenômeno
pelo esgotamento do efeito novidade do código, aliado à brandura na aplicação das sanções.
Em 2006, as mortes voltaram a
cair, mas, a crer em cifras incompletas de 2007, estão subindo de
novo. Seja como for, não parece
haver situação de descontrole,
apesar de as taxas permanecerem em patamares elevados. Em
2002, quando o Brasil registrou
taxa de 19,8 por 100 mil, países
comparáveis como Argentina e
México exibiam
índices menores:
11,5 e 12, respectivamente. No
mundo civilizado
a diferença é
maior: Dinamarca (8,6), Suíça
(6).
São bem-vindas algumas das
medidas propostas pelo governo
para aumentar a
segurança. Merecem destaque as
regras adicionais para coibir o
abuso na velocidade e para reduzir à metade o limite de ingestão
alcoólica. Há uma miríade de estudos que apontam a embriaguez e o excesso de velocidade
como responsáveis por grande
fatia de acidentes letais.
Vale, porém, repetir o alerta
inicial. Nosso principal problema não é a inadequação das leis,
mas a dificuldade de assegurar
que sejam cumpridas. Se o governo não tomar medidas para
mudar esse padrão, o efeito de
regras mais duras será, na melhor das hipóteses, efêmero.
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