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ALBA ZALUAR
Escola
de vida
CARNAVALESCA confessa, freqüento a rua Senhor dos Passos à procura de fantasias de
vez em quando. Neste ano, decepção. As fantasias à venda estão menos ligadas às tradições do Carnaval, cada vez mais dependentes dos
super-heróis e da Disney World,
sem falar das numerosas e estereotipadas fantasias de "destaque" do
desfile das escolas de samba. Não vi
pierrôs, colombinas, arlequins, tirolesas, gregos, ciganas e odaliscas
que povoaram de imaginação cosmopolita o Carnaval da minha infância.
Defensora do samba, vislumbro
com alegria Rio de Janeiro e São
Paulo, duas cidades irmanadas no
gosto pelo sambódromo. Os desfiles criam centenas de milhares de
empregos diretos e indiretos. Indústrias de confecção, de instrumentos musicais e de materiais para montar os cada vez mais tecnicamente sofisticados carros alegóricos, fantasias e alegorias de mão
continuam evoluindo ao ritmo das
baterias das escolas. Microempresários, trabalhadores autônomos e
biscateiros também fazem a sua
festa para enfrentar as agruras do
desemprego, mesmo que em ciclos.
Mas é preciso lembrar, escola de
samba, escola de vida. No Rio de
Janeiro, onde fiz tantas pesquisas,
o samba é um modo de vida que organiza a vida social das vizinhanças
nos bairros mais pobres da cidade,
especialmente nos antigos subúrbios, seu berço e sua fonte inesgotável de inspiração. Como dizem os
antropólogos, ali o samba é cultura
porque ensina, além da música de
ritmo sincopado, posturas, práticas sociais, valores e alegria durante o ano todo.
Por muito tempo os intelectuais
mais lidos deste país associaram o
samba à malandragem. Não viram
que as escolas de samba, buscando
a harmonia e a união, fizeram sua
história na cadência da formação
de sindicatos e da solidariedade entre trabalhadores nos bairros pobres onde foram surgindo.
Para eles, samba é alegria e folia,
ingredientes fundamentais da felicidade, mas também da amizade,
solidariedade e união, sem as quais
não se pode fazer política nem reivindicar melhorias.
Li que, na Alemanha, há cursos
para ensinar as pessoas a rir. Nós
brasileiros, se quisermos, podemos
aprender isso o ano inteiro com os
sambistas, que inclui o pessoal do
frevo, do maracatu, dos blocos afro
da Bahia. E renovar ainda mais o
aprendizado nos dias da folia, também chamada Carnaval. Ainda temos muito a aprender com as lições de amizade, harmonia, tolerância e união que os sambistas,
dentro e fora das escolas, ainda nos
brindam quando se reúnem em
festas no céu. O samba só acaba
quando raia o sol, dizem seus poetas maiores. Benza Deus.
ALBA ZALUAR escreve às segundas-feiras nesta coluna.
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