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HORA DA VERDADE NO CAMPO
Em entrevista à Folha no domingo,
o ministro Raul Jungmann (Política
Fundiária) afirma que tem à disposição, ou quase disponível, um estoque
de terras bastante pelo menos para
atender às reivindicações dos
sem-terra acampados. É um fator
que pode desanuviar a tensão no
campo e desestimular, se se acredita
nas alegações dos militantes, as invasões ilegais de propriedade.
Uma das tarefas a serem enfrentados de imediato, diz o ministro, seria
a de obter meios técnicos e financeiros para vistoriar e distribuir terras,
além de alocar os que as reivindicam.
Mas, mesmo que se cumpram esses
requisitos, o problema de executar
uma política agrícola para famílias
pobres parece apenas começar.
É sabido que a reforma agrária no
Brasil não pode ser discutida estritamente em termos de eficácia econômica, segundo padrões da agricultura de ponta. A reforma seria antes um
programa social, uma tentativa de
oferecer meios de subsistência a uma
parcela dos homens do campo,
abrindo-lhes outro caminho que não
a migração sem perspectiva para as
periferias das grandes cidades. Esse
já é, aliás, o destino de milhões de
trabalhadores que a modernização
da agricultura deixou sem trabalho.
Mas, mesmo levando em conta o aspecto social da reforma, é inegável
que algum sucesso deve ser esperado
dos assentamentos de modo a evitar
que, dentro em breve, a terra distribuída tenha sido, na prática, adquirida por uns poucos agricultores mais
capazes. Ou para evitar que um investimento público redunde em nova
massa de migrantes desiludidos.
Para criar tais condições, é preciso
capital e assessoria para o cultivo,
postos de saúde e escolas, os quais
dariam condições e novas perspectivas de vida para os assentados. Enfim, trata-se de fornecer a esses trabalhadores direitos básicos e inegáveis de cidadania, aos quais, porém,
não têm acesso, registre-se, outros
tantos trabalhadores da cidade.
Ao que parece, é agora que as políticas de reforma agrária e as utopias
dos movimentos de sem-terra vão
chegar ao seu momento de verdade.
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