São Paulo, quarta, 4 de fevereiro de 1998

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REFLEXOS DA TORMENTA

O novo recorde de carnês em atraso, registrado em janeiro último pela Associação Comercial de São Paulo, é mais um indício da desaceleração da economia. Mas se trata ainda de um primeiro sinal, pois os dados se referem a compras realizadas em setembro e outubro, quando o aperto fiscal e de juros mal começava.
O fato é que parece não haver alternativa à política econômica em curso, ainda que o cenário seja angustiante. Os recordes de desemprego, o subemprego, os saltos na inadimplência ou as notícias de falências e de concordatas tornaram-se rotina.
Os números são eloquentes: 1,431 milhão de desempregados e subempregados na região metropolitana de São Paulo no último mês de dezembro (recorde em um período no qual normalmente há maior absorção de mão-de-obra). Na comparação entre o mês passado e janeiro de 1997 houve aumento de 94% no número de carnês em atraso, de 33% nos pedidos de concordata e de 38% nos de falência na capital paulista.
Os juros brasileiros, que hoje ficam entre os mais altos do mundo, estão entre as causas desse quadro. E também não há como esperar alento quanto a investimentos públicos.
A crise asiática abalou a credibilidade de países com elevados déficits externos, como o Brasil. Enquanto essa incerteza não for reduzida, não há espaço para diminuir significativamente as taxas de juros.
A necessidade de conter o déficit público, cujo componente financeiro é aliás impulsionado pela própria política de juros, limita ainda mais as iniciativas oficiais para a criação de empregos. Sem uma retomada do crescimento, o contrato temporário de trabalho e outras medidas de flexibilização são apenas paliativos.
Apesar desse quadro ainda pouco animador, pelo menos o cenário externo parece se desanuviar. As incertezas externas levaram o BC a dobrar os juros em outubro último, mas a recente melhora na Ásia, se persistir, abrirá caminho para uma revisão mais rápida das medidas recessivas.



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