São Paulo, quarta, 4 de fevereiro de 1998

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O ZERO DE CLINTON

Pela primeira vez em 30 anos, o governo dos Estados Unidos apresenta uma proposta orçamentária com previsão de déficit zero em 1999. E o presidente Bill Clinton, que tem sofrido acusações de ordem pessoal, aproveita a oportunidade para colocar o foco em grandes questões nacionais e retomar, ainda que de modo um tanto oportunista, o mote de sua primeira campanha presidencial: "Putting People First" (colocar as pessoas em primeiro lugar).
Apesar de amainada, ainda persiste uma divergência ideológica importante entre democratas e republicanos. Embora as duas grandes forças da política norte-americana tenham colaborado nos últimos anos para reduzir os gastos públicos, as idéias desses partidos tornam-se de novo antagônicas quando se trata de decidir o que fazer com o superávit.
Para democratas, a previsão de superávit é uma oportunidade para propor mais gastos, em especial na área social. Para republicanos, o equilíbrio orçamentário é frágil e, se o superávit ocorresse, o objetivo deveria ser o corte de impostos.
A hipótese de superávit fiscal ainda é, de fato, discutível. O orçamento elaborado pela equipe de Clinton minimiza os efeitos da crise asiática sobre o crescimento econômico dos EUA. A redução do déficit público, entretanto, foi nos últimos anos resultado principalmente do crescimento vigoroso. Se este vier a sofrer redução maior que a esperada, inviabilizará o sonho do superávit fiscal.
Outra fragilidade na hipótese de superávit é a previsão de aumento da arrecadação de impostos, o qual depende do voto de um Congresso dominado pelos republicanos.
O presidente Clinton obviamente inverteu a ordem dos fatores. O superávit é só uma hipótese mas, acenando com gastos sociais, ele tenta mobilizar a opinião pública para a aprovação de mais impostos. Os republicanos denunciam a manobra, mas também não querem se tornar impopulares e perder a maioria parlamentar. A disputa mal começou.



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