São Paulo, domingo, 04 de março de 2007

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Oportunidades em um "ano de engajamento'

CLIFFORD M. SOBEL


A visita de Bush permitirá aos dois lados avançar em nosso objetivo comum: um futuro mais próspero e seguro para nossos povos


EM TODO o hemisfério ocidental, 2006 foi um "ano de eleições". Novos chefes de Estado foram eleitos democraticamente. Com o início dos novos governos, os EUA, que também passaram por mudanças com eleições para o Congresso, estão trabalhando com afinco para fortalecer os laços com muitos vizinhos do hemisfério neste "ano do engajamento". Em primeiro lugar entre os países com os quais pretendemos trabalhar mais de perto está o Brasil.
A força e a importância da relação bilateral Brasil-EUA nunca estiveram mais claras do que nos primeiros meses deste ano, quando duas autoridades americanas de primeiro escalão visitaram o Brasil, e a Casa Branca anunciou que o presidente Bush visitará São Paulo agora em março.
Tendo participado de boa parte dos últimos encontros, posso atestar que muito foi alcançado durante as visitas recentes do subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, Nicholas Burns, e do secretário de Justiça, Alberto Gonzales, que se reuniram com vários líderes governamentais e do setor privado para discutir maneiras de trabalharmos juntos visando atingir nossa meta comum de um hemisfério seguro, próspero e democrático.
Destacam-se entre essas áreas de parceria os biocombustíveis, componentes fundamentais da cooperação entre Brasil e Estados Unidos. Juntos, os EUA e o Brasil são responsáveis por cerca de 70% da produção global de etanol. Faz total sentido para nossos dois países discutir maneiras de aprofundar essa cooperação.
E, além disso, há muito sentido econômico e ambiental em explorarmos formas de promover a produção e o consumo de biocombustíveis no hemisfério e em outros lugares como alternativa à dependência do petróleo.
Como disse o subsecretário em discurso proferido na Faap: "Esse tipo de cooperação em energia pode se revelar uma força democratizante no mundo. Não precisamos ficar para sempre à mercê dos produtores de petróleo. Não precisamos ficar sob a influência de países que causam impacto distorcido no mundo. Dois deles são o Irã e a Venezuela, por causa do poder do petróleo. Podemos criar, na próxima geração, fontes alternativas de suprimento de combustíveis não apenas vantajosas para todos mas também mais democratizantes no quadro energético mundial".
A despeito do grande potencial dos biocombustíveis, houve quem sugerisse que a recente atenção dada ao Brasil foi em grande parte movida por um desejo dos EUA de combater a influência da Venezuela de Hugo Chávez na região. A agenda americana na América Latina é positiva. Estamos trabalhando diretamente com nossos amigos -Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Peru e outros- com agendas voltadas ao futuro, não às políticas fracassadas do passado. Como líder global e regional e uma força para a democracia e a estabilidade regionais, o Brasil é naturalmente um parceiro importante para os EUA.
De fato, a relação bilateral Brasil-EUA vai muito além das questões de comércio e investimentos que tendem a dominar as manchetes. Trata-se de uma relação multifacetada, com aspectos sociais, educacionais, culturais e científicos. Também inclui as áreas vitais de aplicação da lei e cooperação no combate ao terrorismo -dois itens importantes da pauta da visita do secretário de Justiça.
Em discurso no almoço promovido pela Associação Brasileira da Propriedade Intelectual no Rio de Janeiro, o secretário de Justiça identificou outra esfera importante da cooperação Brasil-EUA ao elogiar o governo brasileiro por seu "trabalho árduo e pela dedicação ao combate ao crime contra a propriedade intelectual". Ao darmos andamento aos nossos esforços de cooperação bem-sucedidos, continuou, "podemos virar o jogo no combate aos crimes contra a propriedade intelectual e às organizações criminosas que lucram com eles" para "garantir um futuro justo e próspero para o Brasil e os Estados Unidos".
Centrar os esforços na propriedade intelectual traz o benefício adicional de promover inovação, pesquisa e desenvolvimento. Isso ajuda a criar um ambiente melhor para os investimentos, que resulta em mais produtividade e melhor competitividade, o que é bom para o crescimento econômico.
Participando deste "ano do engajamento" com a América Latina, o presidente Bush viajará ao Brasil, ao Uruguai, à Colômbia, à Guatemala e ao México de 8 a 14 de março. Essa viagem enfatizará o compromisso dos EUA com o hemisfério ocidental e destacará nossa agenda comum para fazer avançar a liberdade, a justiça social, a saúde, a educação e as oportunidades econômicas.
Nossa relação com o Brasil se baseia nos mesmos valores democráticos fundamentais. Nossa adesão a esses valores nos permitiu alcançar muito como as duas maiores democracias do hemisfério ocidental. O subsecretário Burns e o secretário de Justiça Gonzales abriram as portas para outras autoridades de primeiro escalão que visitarão o Brasil neste ano para aprofundar nossas relações.
A visita do presidente Bush nos ajudará a dar continuidade a nossas relações bilaterais já fortes e permitirá aos dois lados avançar em nosso objetivo comum: um futuro mais próspero e seguro para nossos povos. O "ano do engajamento" teve um bom início.

CLIFFORD M. SOBEL é o embaixador dos Estados Unidos no Brasil.


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