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CARLOS HEITOR CONY
Transparência lá e cá
RIO DE JANEIRO - Parece filme
de Woody Allen, mas não é. Tampouco tenho certeza se foi um sonho absurdo, como costumam ser
os sonhos, mas que sempre servem
para alguma coisa. No meu caso
pessoal, já cheguei ao exagero de escrever dois romances a partir de sonhos que tenho mesmo sem estar
dormindo. Nada demais que agora
escreva uma crônica que me dá menos trabalho e, tal como os romances, nenhuma glória.
Não estou acompanhando com
entusiasmo (e mesmo sem ele) a
campanha eleitoral nos EUA. Leio
as notícias e os comentários muito
por cima, sem me interessar por nenhum candidato. Nem mesmo me
edifico com a transparência, que,
tal como no Brasil, passou a ser virtude indispensável dos governos e
dos governantes. Todos agora se
preocupam com a transparência,
que antigamente era atributo exclusivo de seres incorpóreos, como
os anjos e alguns extraterrestres.
Sonhei que Hillary Clinton, pré-candidata democrata, após comício
em que ganhou o apoio de vários
convencionais que nela votarão na
devida hora, chegou em casa eufórica e comunicou o sucesso ao marido: "Bill, dei uma que vai derrubar o
Obama definitivamente. Prometi
que serei transparente como nunca
ninguém foi neste país, nem mesmo você, que foi tão opaco naquele
caso com a estagiária da Casa Branca. Para mostrar transparência, decidi me assumir tal como sou e declarei que não mais usaria peruca.
Num gesto teatral que provocou
uma ovação delirante, arranquei a
minha peruca e a joguei para os
convencionais".
O ex-presidente e marido estava
tentando ler sem interesse um relatório sobre as conseqüências do
aquecimento global, tema que não o
alarmava pessoalmente. Sem tirar
os olhos da papelada, estranhou:
"Mas querida, você nunca usou
peruca!".
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