São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

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CARLOS HEITOR CONY

Transparência lá e cá

RIO DE JANEIRO - Parece filme de Woody Allen, mas não é. Tampouco tenho certeza se foi um sonho absurdo, como costumam ser os sonhos, mas que sempre servem para alguma coisa. No meu caso pessoal, já cheguei ao exagero de escrever dois romances a partir de sonhos que tenho mesmo sem estar dormindo. Nada demais que agora escreva uma crônica que me dá menos trabalho e, tal como os romances, nenhuma glória.
Não estou acompanhando com entusiasmo (e mesmo sem ele) a campanha eleitoral nos EUA. Leio as notícias e os comentários muito por cima, sem me interessar por nenhum candidato. Nem mesmo me edifico com a transparência, que, tal como no Brasil, passou a ser virtude indispensável dos governos e dos governantes. Todos agora se preocupam com a transparência, que antigamente era atributo exclusivo de seres incorpóreos, como os anjos e alguns extraterrestres.
Sonhei que Hillary Clinton, pré-candidata democrata, após comício em que ganhou o apoio de vários convencionais que nela votarão na devida hora, chegou em casa eufórica e comunicou o sucesso ao marido: "Bill, dei uma que vai derrubar o Obama definitivamente. Prometi que serei transparente como nunca ninguém foi neste país, nem mesmo você, que foi tão opaco naquele caso com a estagiária da Casa Branca. Para mostrar transparência, decidi me assumir tal como sou e declarei que não mais usaria peruca. Num gesto teatral que provocou uma ovação delirante, arranquei a minha peruca e a joguei para os convencionais".
O ex-presidente e marido estava tentando ler sem interesse um relatório sobre as conseqüências do aquecimento global, tema que não o alarmava pessoalmente. Sem tirar os olhos da papelada, estranhou:
"Mas querida, você nunca usou peruca!".


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