São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES Repactuando a segurança pública
LUIZ EDUARDO SOARES
O novo paradigma também se caracteriza pela natureza do movimento que o potencializa: a iniciativa retorna ao Estado, às instituições públicas e à cidadania. Nesse caso, trata-se de duas iniciativas convergentes e complementares, voltadas para as urgências do presente, mas simultaneamente dirigidas à construção do futuro, na medida em que semeiam e antecipam a reconfiguração de todo um campo institucional. Na área da segurança pública brasileira, agimos por espasmos voluntaristas, pautados pelas tragédias. Dificilmente há tempo e condições políticas para pensar e preparar o ano seguinte; raramente há oportunidade para analisar a realidade e planejar ações estratégicas, identificando métodos pertinentes e mecanismos sistemáticos de avaliação e monitoramento, com transparência e controle externo. Com razão, acossada pelo medo, a sociedade reclama medidas emergenciais que afastem a ameaça que a aterroriza. Compreensivelmente, despreza esforços voltados para o próximo ano. Quer saber da segurança já. Os criminosos não darão trégua para que as autoridades reorganizem suas instituições, reformem a gestão, revisem as rotinas e capacitem os operadores. Por isso, as referências à necessidade de transformações estruturais nas polícias e em outras agências do campo da Justiça Criminal soam irresponsáveis. Tudo o que se desvia do imediato parece, à sociedade angustiada, justificadamente, mera desconversa. Cabe aos gestores respeitar esses sentimentos e responder com agilidade às emergências, sem descurar do compromisso com processos que exigem amadurecimento para alcançar resultados duradouros e consistentes. O desafio é reorganizar radicalmente sem desorganizar as precárias estruturas existentes. Para enfrentar o tempo de transição, é indispensável construir a mais ampla coalizão política possível. Uma coalizão pela paz, contra a barbárie. A coalizão deve unir o espectro político e o conjunto das instituições públicas. O Sistema Único de Segurança Pública e a Comissão Interinstitucional Permanente de Investigação representam a melhor combinação possível entre operacionalidade e criação de condições políticas e técnico-operacionais para o combate ao crime organizado. Luiz Eduardo Soares, 49, antropólogo, é secretário nacional de Segurança Pública. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Rogério Cezar de Cerqueira Leite: O sucateamento da ciência brasileira Índice |
|