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A pior de todas as guerras
ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES
Neste momento em que o mundo se
preocupa com uma eventual convulsão européia, a partir de ataques e
contra-ataques covardes que ocorrem
na Iugoslávia, o Brasil se prepara para
entrar numa luta ainda mais séria: a
guerra contra os traficantes de drogas.
A declaração de guerra foi solenemente anunciada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso na 1ª Reunião Nacional Antidrogas, na quarta-feira passada.
Está aí uma guerra nobre. Num dia
de Páscoa como este, diria tratar-se de
uma guerra santa, destinada a afastar
a juventude da doença, do jogo, do
crime e da prostituição.
O que não dá para entender, porém,
é o surgimento de outras guerras predatórias dentro da mesma guerra. Refiro-me às disputas de poder que começam a ser travadas entre os órgãos
responsáveis pelo combate ao tráfico
de drogas.
No âmbito interno, nota-se uma
ponta de ciúme entre a Polícia Federal, que até recentemente cuidava daquele combate, e a nova Secretaria
Antidrogas, que hoje dá as ordens sobre o que deve ser feito. No âmbito
externo, cresce a discordância entre as
autoridades americanas, que privilegiam o combate nos postos de saída
do Brasil (portos e aeroportos), e as
brasileiras, que desejam concentrar
esforços nos postos de entrada (regiões de fronteira).
A guerra das burocracias é a pior de
todas as guerras. É disso que os traficantes gostam. Enquanto os burocratas disputam o poder, eles expandem
suas vendas.
Não podemos ter ilusões. A guerra à
droga será a mais longa de todas as
guerras e vai exigir ataques nas mais
variadas frentes. O consumidor terá
de ser um alvo tão importante quanto
o produtor e o comerciante. As ações
terão de ser tomadas com firmeza, repete-se, em todos os campos.
Será prioritário, é óbvio, proteger os
consumidores potenciais: as crianças.
O Brasil precisa considerar seriamente
a edição de leis que proíbam a circulação de menores desacompanhados
nas ruas à noite, a menos que estejam
indo ou voltando da escola, e de regras que proíbam o funcionamento de
pontos de disseminação de drogas depois das 21h: bares, saunas, casas de
massagem, danceterias, clubes noturnos, becos de jogos eletrônicos e outros.
É claro que, nesse rol de atividades,
têm a maior importância os programas educacionais e a ajuda de professores preparados e bem remunerados,
assim como os programas de combate
conduzidos por policiais treinados,
bem pagos e sujeitos a rigorosa fiscalização dos órgãos corregedores.
Enfim: estamos no meio de uma
grande e complicada guerra para a
qual é indispensável uma organização
eficaz nos campos da educação e da
repressão. Está na hora de se juntar
esforços, deixando-se de lado o inglório culto à vaidade.
Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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