São Paulo, sábado, 04 de maio de 2002

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Lições maternas de vida cristã

Na sociedade em que crescem a violência e a desigualdade social e em que se perdem os parâmetros éticos em relação à vida humana e à família, experimentamos o anseio de convivência fraterna -marcada pelo resgate da dignidade da pessoa e pela reconciliação entre povos, raças e crenças.
O egoísmo do coração humano e a sede descontrolada pelo prazer e pela dominação vão minando a expectativa de uma sociedade justa e solidária e afastando para longe o sonho de uma "terra sem males". Que esperança há em fazer recuar o quadro de violência e injustiças que caracteriza a nossa geração? Diante do drama da miséria e da fome, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em sua última Assembléia, propõe atitudes que estão na base da nova sociedade de que os cristãos devem dar testemunho.
A primeira é a vivência da solidariedade, que nasce da abertura do coração às necessidades do próximo. A exemplo de Jesus Cristo, Bom Pastor, que se comoveu diante do sofrimento espiritual e material do povo, precisamos nos educar para perceber os irmãos caídos à margem da estrada e empenhar-nos em socorrê-los e promovê-los. É a atitude de compaixão e de misericórdia de Cristo que nos motiva e nos anima a superar o individualismo. O Evangelho nos apresenta Maria, Mãe de Jesus, como a verdadeira discípula, solícita e atenta ao sofrimento do povo. Temos de aprender com ela a nos comover e a nos comprometer diante dos que carecem do necessário à vida. A devoção a Maria intensifica a vontade de imitá-la no seguimento de Jesus. Ela vai nos levar a descobrir o pranto e a lágrima da criança abandonada, os anseios dos jovens, o drama da família sem emprego e o vazio de quem não tem Deus no coração para a todos amar e auxiliar.
A segunda atitude indispensável aos cristãos para a realização da sociedade fraterna é a opção por uma vida simples, frugal e saudável. Para corrigir as falhas do mundo consumista, que desgasta a natureza e acumula bens para si, esquecendo-se dos outros, é preciso aprender o desapego às riquezas e descobrir a alegria de partilhar o que temos com os demais. Exemplo de vida cristã é o modo simples de viver de Maria, Mãe de Jesus, e de São José: a confiança em Deus, o hábito do trabalho, a ausência de privilégios, o anonimato e a participação na condição do povo. As primeiras comunidades dos discípulos de Jesus nasceram ao redor de Maria e colocavam em comum o que possuíam a fim de que a ninguém faltasse o necessário.
Hoje, as comunidades cristãs são chamadas a dar testemunho de uma vida modesta que se contenta com o suficiente e, assim, permite, com alegria, partilhar com os outros aquilo que de Deus recebemos.
No cerne da nova sociedade está a atitude de quem estima e respeita a vida, dom de Deus, que deve ser reconhecida na dignidade da pessoa. Quem melhor do que a Mãe de Jesus para nos transmitir o valor da vida? Ela, que acolheu com amor e protegeu o Divino Salvador, há de nos ajudar a sermos irmãos e irmãs uns dos outros e a assegurarmos condições dignas de vida para todos.
No mês de maio, procuremos com as primeiras comunidades contemplar e imitar o exemplo da Mãe de Deus e nossa, discípula perfeita de Jesus.
Aprendamos com ela a dar testemunho das atitudes cristãs que hão de transformar a atual sociedade e anunciar as sementes de esperança do Reino definitivo.


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.



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