RIO DE JANEIRO - Perguntaram a um escritor mais ou menos famoso se a nova namorada, loura, razoavelmente burra e bonita, não prejudicava a imagem dele. A resposta veio na hora: ""Não sou aparelho de TV para me preocupar com a imagem".
Um escritor talvez possa esnobar a opinião pública, adotando um comportamento estranho ou condenável. Eça de Queiroz só viajava levando na mala duzentas gravatas, e Balzac só escrevia vestido com um burel de frade. Proust, por causa da asma, vivia num quarto revestido de cortiça. Verlaine se entupia de absinto, e Lima Barreto, de cachaça. Consta que Flaubert fugia dos credores procurando o ""mot juste", a palavra exata. E Joyce só escrevia depois que comia rim com cebola.
Já os candidatos a presidente, no Brasil, são obrigados a serem fabricados pelos marqueteiros de diversas origens e finalidades. Desde o vocabulário até o comprimento das calças, tudo tem de ser produzido para criar a imagem do homem inserido na engrenagem conservadora, sem contestar as conveniências sociais e ideológicas do momento.
Tomemos como exemplo dois barbudos. Lula e Enéas. Um lidera as pesquisas, outro parece que está na lanterninha. Lula foi melhorando gradativamente de barba, que era feroz, sedenta de justiça social e de melhores salários. A barba ficou-lhe "light", palatável ao sistema. O mesmo aconteceu com o laço da gravata -ele que, antes, nem usava gravata.
Enéas é mais autêntico. Continua exótico e virulento, sua barba é tão inculta e bela que parece postiça -os irmãos Marx têm um filme (""Uma Noite na Ópera") em que aparecem com barba igual.
Na República Velha, era comum o presidente barbudo. Após Washington Luís, que usava um cavanhaque "belle époque", de Getúlio em diante os presidentes vieram sem barba. Não sei o que isso significa -se é que significa alguma coisa.


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