São Paulo, quarta-feira, 04 de maio de 2005

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FANTASIA CAMBIAL

São inúteis os esforços retóricos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar convencer o meio empresarial de que a expressiva queda da cotação do dólar no Brasil é apenas reflexo de um movimento externo. Anteontem, em visita a uma montadora, em São Bernardo do Campo, o presidente sugeriu aos insatisfeitos com a taxa de câmbio que organizassem uma comitiva para levar as queixas ao governo dos EUA.
Ora, os que acompanham a dinâmica econômica sabem perfeitamente que a trajetória de valorização do real tem sido acentuada por um fator interno -as elevadas taxas juros mantidas pelo Banco Central na tentativa inglória de cumprir o objetivo de inflação para este ano, fixado em 5,1%. O alto nível dos juros exerce forte atrativo sobre investidores de curto prazo e pressiona o câmbio.
É verdade que o Brasil continua gerando saldos comerciais volumosos, mas seria enganoso ver nessa realidade a prova definitiva de que a cotação do dólar, que ontem desceu a menos de R$ 2,50, se encontra em patamar equilibrado.
Há setores exportadores, como o siderúrgico, que se beneficiam de aumentos de preços internacionais, há os que sofreram perdas, mas vêm conseguindo manter alguma lucratividade, e há também segmentos relevantes, como o de calçados e o automobilístico, condenados a encontrar grandes dificuldades para continuar a conviver com o câmbio atual, que corrói seu poder de competir.
A volatilidade das cotações cambiais é um fator de incerteza "regulatória" para empreendimentos exportadores, tanto quanto as lacunas freqüentemente apontadas em outros setores -e o país, que vem superando suas vulnerabilidades externas, não pode abrir mão de exportar.
Para que se amplie e consolide, por exemplo, o processo de transferência para o Brasil de fábricas de companhias transnacionais voltadas para a exportação, é preciso que haja confiança na decisão do governo de preservar as condições que favorecem essa estratégia. E não será com discursos fantasiosos sobre o câmbio e pedidos para que os empresários parem de "chorar", como fez anteontem, que o presidente ajudará a dissipar essas incertezas.


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