|
Próximo Texto | Índice
FANTASIA CAMBIAL
São inúteis os esforços retóricos do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva para tentar convencer o
meio empresarial de que a expressiva
queda da cotação do dólar no Brasil é
apenas reflexo de um movimento externo. Anteontem, em visita a uma
montadora, em São Bernardo do
Campo, o presidente sugeriu aos insatisfeitos com a taxa de câmbio que
organizassem uma comitiva para levar as queixas ao governo dos EUA.
Ora, os que acompanham a dinâmica econômica sabem perfeitamente que a trajetória de valorização
do real tem sido acentuada por um
fator interno -as elevadas taxas juros mantidas pelo Banco Central na
tentativa inglória de cumprir o objetivo de inflação para este ano, fixado
em 5,1%. O alto nível dos juros exerce forte atrativo sobre investidores de
curto prazo e pressiona o câmbio.
É verdade que o Brasil continua gerando saldos comerciais volumosos,
mas seria enganoso ver nessa realidade a prova definitiva de que a cotação do dólar, que ontem desceu a
menos de R$ 2,50, se encontra em
patamar equilibrado.
Há setores exportadores, como o
siderúrgico, que se beneficiam de aumentos de preços internacionais, há
os que sofreram perdas, mas vêm
conseguindo manter alguma lucratividade, e há também segmentos relevantes, como o de calçados e o automobilístico, condenados a encontrar
grandes dificuldades para continuar
a conviver com o câmbio atual, que
corrói seu poder de competir.
A volatilidade das cotações cambiais é um fator de incerteza "regulatória" para empreendimentos exportadores, tanto quanto as lacunas freqüentemente apontadas em outros
setores -e o país, que vem superando suas vulnerabilidades externas,
não pode abrir mão de exportar.
Para que se amplie e consolide, por
exemplo, o processo de transferência para o Brasil de fábricas de companhias transnacionais voltadas para
a exportação, é preciso que haja confiança na decisão do governo de preservar as condições que favorecem
essa estratégia. E não será com discursos fantasiosos sobre o câmbio e
pedidos para que os empresários parem de "chorar", como fez anteontem, que o presidente ajudará a dissipar essas incertezas.
Próximo Texto: Editoriais: REVISÃO NUCLEAR Índice
|